Grupo responsável pelo ataque terrorista que está na origem da ofensiva mais recente de Israel, o “Hamas não é sinônimo de Palestina”, adverte o professor de Relações Internacionais Matheus Hernandez, da Universidade Federal da Grande Dourados.
O especialista explica que, “seja geograficamente, porque tem a Cisjordânia, seja politicamente, porque tem o Fatah e a Autoridade Palestina”, o Hamas não pode ser confundido com a Faixa de Gaza e os palestinos.
“O Hamas é um grupo que prevê no seu estatuto a extinção do estado de Israel”, aponta Hernandez, “mas, quando pegamos dados de pesquisa até recentes, o nível de apoio popular ao Hamas na Faixa de Gaza é pequeno, em torno de 20%, e está muito longe de representar o todo da população palestina”.
Ainda de acordo com ele, esse percentual não significa que “esses 80% restantes são apoiadores de Israel”, mas que “é gente que acredita na solução de dois estados, no Fatah, que é um partido moderado”.
A base de sustentação do grupo terrorista no território palestino, logo, é diminuta, não encontrando tanta aderência popular entre civis que vivem na região sob domínio de Israel.
Desde o início da guerra, a Faixa de Gaza já sofreu com a asfixia de mantimentos, corte nos suprimentos médicos e suspensão no fornecimento de energia.
Na última sexta-feira, as forças militares israelenses emitiram comunicado de evacuação do norte de Gaza, onde mora 1 milhão de palestinos.
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Brasil tenta se cacifar como mediador no conflito
Em meio às tantas variáveis implicadas na guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, qual o papel do Brasil à frente do Conselho de Segurança da ONU?
Desde o início da batalha, o país, sob comando do presidente Lula (PT), tem focado na operação de repatriação de nativos que estavam na zona de conflito, sobretudo em cidades israelenses.
Ao longo da semana, ao menos seis aeronaves foram empregadas para resgate de quase mil brasileiros e brasileiras. A última viagem havia sido feita na sexta-feira, 13, quando avião partindo de Tel Aviv tinha pouso previsto no Rio de Janeiro horas depois.
A ênfase nessa atividade tinha dupla função: salvaguardar a vida dos cidadãos nacionais, demarcando diferença em relação ao governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL), e deixar em segundo plano as dificuldades que membros do Planalto vêm tendo para denominar abertamente o Hamas como facção terrorista.
Embora Lula tenha se referido ao grupo como praticante de atos de terror logo na sua primeira manifestação sobre o conflito, a postura do Governo, de modo geral, foi cautelosa nesse sentido.
Apesar disso, analistas entendem que o Itamaraty se encaminha para se mostrar como um negociador internacional, ajudando na resolução do embate no Oriente Médio.
“O Brasil tenta angariar importância no cenário internacional assumindo o papel de mediador, mesmo quando ele não tem interesses explícitos e diretos em relação a uma região ou aos países envolvidos”, assinala Rodrigo Barros de Albuquerque, professor de Relações Internacionais da UFS e de Ciência Política da UFPE.
Para o pesquisador, contudo, há riscos nessa investida do governo Lula, sobretudo quando consideradas “as declarações apressadas e controversas que não encontram respaldo nem junto ao eleitorado nem ao próprio partido, e ainda sendo atacado veementemente pela oposição”.
“O presidente Lula arrisca, ao invés de ganhar espaço, perdê-lo”, avalia o especialista, para quem o contexto de polarização política do Brasil é fator dificultador para que o país se consolide nessa posição global de pacificador. (Henrique Araújo)