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As discussões em torno da aprovação da urgência para tramitar o projeto de lei que equipara aborto ao crime de homicídio, na Câmara dos Deputados, mostrou que ninguém é contra ou favor do aborto. São, na verdade, contra a mulher. Contra a garantia de direitos das mulheres. Não basta determinar as práticas cabíveis para os indivíduos de uma sociedade, mas dar condições para acessá-las.
Quem deveria proteger os nossos interesses, no entanto, colocou-os à prova. Em que mundo é concebível que a pena seja maior para uma vítima do que para um criminoso? Queria poder dizer que apenas na imaginação dos mais perversos. Contudo, a realidade é passível no parlamento brasileiro.
As pautas devem ser colocadas e discutidas, fato é, mas há de se concordar que a penalização da vítima frente à existência do estuprador é deveras imoral, irracional, desumano. Nas redes sociais, até quem é contra a descriminalização do aborto foi também contrário à culpabilização da vítima.
É como compartilham por aí: se homem engravidasse, o aborto sequer seria crime. Quem o diz, esquece-se que eles já abortam quando se eximem da responsabilidade de criarem seus filhos - até neste cenário, as mulheres ficam em segundo plano, afinal, quem se importa com o trauma de ser abandonada com uma gestação, um parto, um puerpério e a criação de um ser humano para encarar?
Ao propor a urgência do requerimento, o presidente da Casa Baixa, deputado federal Arthur Lira (PP-AL), alcançou um de seus objetivos: o de agradar parlamentares conservadores. Mas, a força da comoção brasileira, sobretudo das mulheres, mostrou-se mais poderosa. É sempre o que nos resta: lutar pelo o que não nos dão e, ainda, pelo que tentam nos tirar.