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Precisamos falar sobre a dor do estupro e o direito das mulheres
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Sara Oliveira é repórter especial de Cidades do jornal O Povo há 10 anos, com mais de 15 anos de experiência na editoria de Cotidiano/Cidades nos cargos de repórter e editora. Pós-graduada em assessoria de comunicação, estudante de Pedagogia e interessadíssima em temas relacionados a políticas públicas. Uma mulher de 40 anos que teve a experiência de viver em Londres por dois anos, se tornou mãe do Léo (8) e do Cadu (5), e segue apaixonada por praia e pelas descobertas da vida materna e feminina em meio à tanta desigualdade.

Sara Oliveira comportamento

Precisamos falar sobre a dor do estupro e o direito das mulheres

No Brasil, a cada oito minutos, uma menina ou uma mulher é estuprada

Um homem, com um pedaço de sei lá o que representando a barriga de uma mulher, abre a "parede abdominal" e injeta algo em um feto. A demonstração do que seria um aborto legal, realizado em uma mulher que foi estuprada, foi protagonizada por um médico e também deputado, no Congresso Nacional. "Nós, médicos, não podemos permitir isso", disse. Ele estava falando sobre uma mulher e seu corpo, que foram violentados sexualmente. No Brasil, a cada oito minutos, uma menina ou uma mulher é estuprada.

O dado é de 2019, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), com informações das secretarias estaduais. No Ceará, nos quatro primeiros meses de 2024, foram registrados pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), 662 casos de estupro, estupro de vulnerável e exploração sexual de menor. Com crescimento de 33% entre março e abril.

Estamos falando de crianças, adolescentes e mulheres que são obrigadas a ter relações sexuais com homens contra a sua própria vontade. Para isso, são ameaçadas, enganadas, espancadas e torturadas.

Estamos falando de meninas de 12 anos que engravidam. Filhas que são estupradas pelos pais. Ou por irmãos. Ou por vizinhos. Ou pelo avô. Ou por um desconhecido. Estamos falando de mulheres, mães, que são violentadas pelos companheiros. Pelos vizinhos e desconhecidos também.

Se o deputado quis demonstrar dor ao abrir uma barriga e enfiar uma seringa em um suposto feto, sugiro que escute de uma mulher sobre a dor de ser estuprada. Como são os ataques, os modos operandi, os detalhes, os gritos, o sangue, as roupas, o medo. Os autores.

Sugiro ainda que escute mulheres que engravidaram após serem estupradas e peregrinaram por hospitais para ter acesso a um direito constitucional. Se o objetivo foi demonstrar dor, é realmente necessário ouvir sobre a dor causada a essas mulheres. E não são poucas, dada a imensa subnotificação ainda existente.

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estimou, em março de 2023, que ocorram 822 mil estupros por ano no Brasil. E que apenas 8,5% são registrados pelas polícias e 4,2% pelos sistemas de informação em saúde. O estupro é um dos tipos de violências mais subnotificados, principalmente porque na maioria dos casos acontece dentro de casa e com envolvimento dos familiares.

É preciso tirar o véu da religiosidade, do tabu, do preconceito e da discriminação, para informar, orientar, punir e prevenir. E garantir o mínimo já conquistado a mulheres vítimas de violência sexual. 

 

 

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