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Precisamos falar sobre a vida além do trabalho
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Precisamos falar sobre a vida além do trabalho

Projeto de lei que propõe o fim da escala 6x1 no País já conta com mais de 171 assinaturas necessárias para tramitar no Congresso
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Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS)

O Brasil foi arrebatado na última semana pela discussão sobre o fim da escala 6x1. Debate que surgiu de um desabafo nas redes sociais de um jovem balconista, virou petição online do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT) com mais de 3 milhões de assinaturas e, por fim, um projeto de lei pelas mãos da deputada Érka Hilton (Psol) que, após muita pressão popular, alcançou mais de 171 assinaturas. 

A proposta - que tem colocado sob pressão o Congresso, o Governo e os empresários - também ganhou as ruas no feriado em manifestações pelo País.

E se há duas semanas, essa parecia uma pauta distante, uma utopia de países mais desenvolvidos, agora, é muito difícil fugir desse debate. Uma discussão que pode, inclusive, ajudar a endereçar saídas para questões como o aumento de casos de burnout no trabalho, alta rotatividade nas empresas e dificuldade na contratação de mão de obra.

É claro, que ainda faltam estudos mais precisos sobre o impacto econômico e social de uma mudança desta monta. Por enquanto, o mais próximo disso foi um estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Fierj) que estimou em R$ 115,9 bilhões o custo para o setor no país para implementar uma jornada semanal de 36 horas (quatro dias de trabalho e três de folga)

Mas faltam indicadores nesta balança. Como, por exemplo, os ganhos que a economia pode ter com as pessoas tendo mais tempo livre para usufruir de bens e serviços como academias, bares, restaurantes e o próprio comércio.

Ou ainda os ganhos de produtividade dentro da empresa com um funcionário menos cansado; a redução na pressão sobre serviços públicos de saúde com uma eventual melhora na qualidade de vida; ou os reflexos que isso pode ter para o estreitamento dos laços familiares e mesmo para atenuar a desigualdade de gênero no País.

Vale lembrar que  antes do 13º salário ser instituído houve enorme pressão para que ele não fosse aprovado sob pena de “quebrar o País”. E hoje é uma das datas mais aguardadas do ano não somente pelos trabalhadores, mas também pela indústria e comércio.

Além disso, a sociedade não é mais como em 1943, quando foi instituída a jornada de 6x1. O tempo despendido no trânsito é maior e mais desgastante. Se antes era comum as famílias contarem com uma empregada doméstica ou babá, hoje, é cada vez maior o número de pessoas responsáveis pelo cuidado da própria casa e dos filhos.

Isso sem falar que, se na pandemia, o “ trabalho invadiu a casa” para que a economia pudesse rodar, hoje, é crescente, mundialmente, a necessidade de reequilibrar o espaço que o trabalho ocupa na vida das pessoas.

É possível que nem todos os setores se encaixem na jornada 4x3? Talvez seria melhor, em alguns casos, começar com a 5x2? Valeria debater uma eventual redução de imposto como contrapartida? Enfim, são muitas questões a serem respondidas, mas é inegável a importância desse debate no Congresso e na vida real das pessoas e empresas.

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