Jair Bolsonaro (PL) esboçou duas estratégias de defesa nos dias que se seguiram ao resultado na Primeira Turma do STF, que o tornou réu por tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes. Uma é admitir preventivamente que discutiu tão somente "dispositivos constitucionais" com seus auxiliares e comandantes das forças armadas naquele dezembro de 2022, como se estivesse se decidindo entre os itens do vestuário que escolheria para a despedida do poder.
Outra é explorar o caso do batom, ou seja, a prisão (convertida em domiciliar na última sexta-feira, 28) e possível pena de 14 anos aplicada a Débora Rodrigues, cuja participação na intentona golpista agora convenientemente se reduz a ter rabiscado, até de modo infantil e ingenuamente, uma estátua na Praça dos Três Poderes.
Ocorre que nem Bolsonaro se limitou a operar dentro das quatro linhas, para usar seu vocabulário, tampouco a jovem cabeleireira do interior paulista passou a estar na mira da Justiça por desembarcar desavisadamente em Brasília num 8 de janeiro de céu limpo, quando calhou, num rompante inexplicável, de pichar um bem público (é até possível que Débora não tivesse total domínio da extensão dos seus atos naquele momento, mas a pretensão da horda que compunha era não só vandalizar, mas produzir caos social que justificasse uma intervenção ou algo como uma GLO).
Se os planos de Bolsonaro não extrapolaram as fronteiras legais, como ele gosta de sustentar, não foi por falta de empenho, a se crer na PF, mas por haver encontrado resistência à pressão que seu governo vinha fazendo desde 2021 e que se intensificou após a derrota eleitoral.
Não por acaso, esse é de longe o maior desafio da acusação na ação penal que se abriu, isto é, estabelecer um nexo lógico (e cronológico) entre os atos do então mandatário (reunião com embaixadores, ataques às urnas, minuta de golpe, encontros com militares etc.) e o 8 de janeiro, espécie de culminância de um roteiro cuja finalidade era assegurar sua continuidade na cadeira de presidente - ao arrepio da lei.