Uma vez, por telefone, perguntei a Cid Moreira qual a notícia mais importante que ele deu nos 26 anos à frente do Jornal Nacional. A voz marcante do paulistano elencou a morte do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e outras que foi lembrando, mas não senti muita convicção. Perguntei por que aquelas notícias foram importantes, ele desconversou e disse que só fazia ler as notícias, não escolhia o que ia ao ar.
Essa é uma diferença fundamental para a atuação William Bonner, que anunciou esta semana que vai se despedir do mais famoso programa de notícias da TV brasileira.
O ex-marido de Fátima Bernardes não foi só apresentador por 29 anos, também foi chefe da equipe de editores por 26. Nesse período, atravessou uma pandemia, entrevistou presidentes, comandou debates e atraiu o desgosto dos admiradores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Para muitos, esse é o motivo que levou à dança das cadeiras no jornalismo da Globo e à mudança do apresentador do Jornal Nacional para o Globo Repórter. No entanto, Bonner aponta questões pessoais, como a falta de tempo para cuidar da vida e da família. Muita coisa mudou no Brasil, na comunicação, no jornalismo e na relação com a informação desde que William Bonner entrou pela primeira vez nas nossas casas para fazer um apanhado do que houve no dia.
Para alguns analistas, as mudanças que aconteceram (como a saída da apresentadora Daniela Lima, outra "inimiga da direita") e outras que estão por vir, indicam um afago da Globo no público que se identifica com pautas conservadoras. Se é isso mesmo, Bonner não será mais o porta-voz.