O apelo na noite desta terça-feira, 9, toma de empréstimo a canção de Alcione (com adaptações): “Não deixa a Ponte morrer / Não deixa a Ponte acabar / A Ponte tem um sentimento / Pro povo do Ceará…”. A voz é de Ivoneide Gois, membro do Conselho Gestor da Zona Especial de Interesse Social (Zeis) do Poço da Draga, mas representa uma súplica-comum dos participantes durante audiência pública no Pavilhão Atlântico.
O debate, solicitado pela vereadora Adriana Gerônimo (Psol - CE), mobilizou a população local em discussões sobre a manutenção e preservação da Ponte Metálica, conhecida como Ponte Velha. A estrutura centenária, que serviu como o primeiro porto de Fortaleza, foi interditada em agosto de 2023.
Integrado à comunidade do Poço da Draga, o equipamento histórico passou por estudos preliminares, incluindo consulta ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A análise, entre outros desdobramentos, considerava a possibilidade de demolição.
“As pessoas continuam utilizando a ponte, porque ela se tornou um lugar de lazer, mas também um lugar de pertencimento, de identidade, sobretudo com a nossa população mais jovem”, considera Adriana Gerônimo.
A vereadora ressalta que a audiência objetiva ainda escutar alternativas para evitar o fim do patrimônio. Entre as soluções apontadas, está o envolvimento de especialistas e uma escuta qualificada da população fortalezense.
Para Ivoneide Gois, a conexão com a Ponte Velha vai além de sua declaração inicial na forma de música e perpassa toda a comunidade. “Os meninos pulam da ponte, o pessoal gosta de desopilar com pescaria, ver o pôr do sol… Se acabar isso, Fortaleza vai ficar sem a história da ponte”, diz.
O comentário de Ivoneide também é refletido na avaliação de Sérgio Rocha, geógrafo e morador da Poço da Draga. Ao pensar na preservação da estrutura, Rocha relata que ela simbolizaria a confirmação e a manutenção da identidade local.
No dia 8 de maio de 2025, a Defesa Civil realizou vistoria na Ponte Metálica, indicando o avanço da corrosão marinha, o risco de queda em ruptura de pavimento e passarela, ausência parcial de pilares de sustentação em vários trechos e sinais de instabilidade grave.
“A gente precisa minimamente se apoiar em documentos técnicos para qualificar esse debate. Precisamos de um parecer de engenharia estrutural, para começarmos a discutir não se a ponte será preservada, mas como ela será preservada”, acrescenta o pesquisador e arquiteto e urbanista Marcelo Capasso, em discussão na audiência pública.