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Trump enfrenta um segundo impeachment inédito
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Trump enfrenta um segundo impeachment inédito

Decisão histórica teve o apoio de dez republicanos e acontece a uma semana do fim do mandato do presidente americano, acusado de incitação à violência
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NANCY Pelosi afirmou que Trump incitou uma
Foto: Chip Somodevilla / Getty Images / AFP NANCY Pelosi afirmou que Trump incitou uma "rebelião armada"

Donald Trump se tornou o primeiro presidente americano na História a enfrentar um impeachment duas vezes, quando a Câmara de Representantes aprovou nesta quarta-feira, 13, o procedimento, acusando-o de incitar a invasão ao Capitólio, sede do Congresso, na semana passada.

O Senado não deve celebrar o julgamento antes de 20 de janeiro, quando o democrata Joe Biden assumirá a Presidência, o que significa que o magnata do setor imobiliário se livrará do risco de ter que deixar o cargo antecipadamente.

No entanto, ele encerrará seu mandato com desonra, e enfrentará depois o julgamento no Senado. Se for condenado, provavelmente será impedido de disputar a Presidência de novo em 2024.

Na Câmara, a pergunta era apenas quantos republicanos haviam se unido à maioria democrata na votação por 232 a 197. Na contagem final, dez republicanos romperam com suas fileiras, inclusive a número três do partido na casa, Liz Cheney, filha do ex-vice-presidente Dick Cheney.

Com Washington sob tensão sete dias após o ataque ao Capitólio, Trump pediu calma. "Insisto para que NÃO haja violência, NÃO sejam cometidos delitos e NÃO haja vandalismo de nenhum tipo. Isso não é o que eu defendo, nem tampouco o que os Estados Unidos defendem", afirmou em um comunicado emitido pela Casa Branca.

Pouco antes, a presidente da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi, acusou Trump de ter incitado uma "rebelião armada" ao pedir votos pela sua deposição. "Deve partir. É um perigo claro e presente para a nação que todos amamos", disse ela em um Congresso entrincheirado.

Militares no Capitólio

Membros da Guarda Nacional descansam na Rotunda do Capitólio dos Estados Unidos em Washington, DC, em 13 de janeiro de 2021, antes de uma votação da Câmara de impeachment do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. - A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, controlada pelos democratas, na quarta-feira abriu o debate sobre um segundo impeachment histórico do presidente Donald Trump devido ao ataque de seus partidários ao Capitólio, que deixou cinco mortos. Os legisladores da câmara baixa devem votar pelo impeachment por volta das 3:00 pm (2000 GMT) - marcando a abertura formal do processo contra Trump. (Foto de SAUL LOEB / AFP)
Foto: SAUL LOEB / AFP
Membros da Guarda Nacional descansam na Rotunda do Capitólio dos Estados Unidos em Washington, DC, em 13 de janeiro de 2021, antes de uma votação da Câmara de impeachment do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. - A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, controlada pelos democratas, na quarta-feira abriu o debate sobre um segundo impeachment histórico do presidente Donald Trump devido ao ataque de seus partidários ao Capitólio, que deixou cinco mortos. Os legisladores da câmara baixa devem votar pelo impeachment por volta das 3:00 pm (2000 GMT) - marcando a abertura formal do processo contra Trump. (Foto de SAUL LOEB / AFP)

A sete dias da posse de Joe Biden, Washington, sob um forte esquema de segurança, estava irreconhecível. As imagens eram impactantes: dezenas de militares da reserva passaram a noite dentro do Congresso. Muitos dormiam no chão das salas e corredores.

Blocos de concreto separavam os cruzamentos principais do centro da cidade. Enormes barreiras de metal cercavam prédios federais, incluindo a Casa Branca, e a Guarda Nacional estava por todos os lados.

Sessão do impeachment

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, observa durante uma manifestação em apoio aos senadores republicanos Kelly Loeffler e David Perdue antes do segundo turno do Senado em Dalton, Geórgia em 4 de janeiro de 2021. - O presidente Donald Trump ainda busca maneiras de reverter sua derrota eleitoral, e O presidente eleito Joe Biden converge para a Geórgia na segunda-feira para duelos de comícios na véspera do segundo turno que vai decidir o controle do Senado dos EUA. Trump, um dia após o lançamento de uma gravação bombástica na qual pressiona as autoridades da Geórgia a reverter sua derrota nas eleições de 3 de novembro no estado do sul, deve realizar um comício na cidade de Dalton, no noroeste, em apoio aos senadores republicanos Kelly Loeffler e David Perdue. (Foto de MANDEL NGAN / AFP)
Foto: MANDEL NGAN / AFP
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, observa durante uma manifestação em apoio aos senadores republicanos Kelly Loeffler e David Perdue antes do segundo turno do Senado em Dalton, Geórgia em 4 de janeiro de 2021. - O presidente Donald Trump ainda busca maneiras de reverter sua derrota eleitoral, e O presidente eleito Joe Biden converge para a Geórgia na segunda-feira para duelos de comícios na véspera do segundo turno que vai decidir o controle do Senado dos EUA. Trump, um dia após o lançamento de uma gravação bombástica na qual pressiona as autoridades da Geórgia a reverter sua derrota nas eleições de 3 de novembro no estado do sul, deve realizar um comício na cidade de Dalton, no noroeste, em apoio aos senadores republicanos Kelly Loeffler e David Perdue. (Foto de MANDEL NGAN / AFP)

As intervenções dos congressistas foram enérgicas. Trump é um "tirano", lançou a democrata Ilhan Omar. "Não podemos virar a página sem fazer nada", disse. A republicana Nancy Mace afirmou que o Congresso deveria exigir que o presidente fosse responsabilizado por suas ações, mas considerou irresponsável agir de "forma precipitada".

Havia nuances nos discursos dos republicanos. O líder desse bloco na Câmara, Kevin McCarthy, reconheceu que Trump tem "responsabilidade" pelos distúrbios, mas considerou um erro submetê-lo a um impeachment em um curto espaço de tempo. Em vez disso, propôs uma declaração de "censura", que na prática tem um efeito basicamente simbólico.

Cada vez mais isolado, o tempestuoso presidente tentou na terça-feira, 12, minimizar o procedimento contra ele, descrevendo-o como uma "continuação da maior caça às bruxas da história política".

Poucos dias antes de partir para sua residência em Mar-a-Lago, Flórida, onde sua nova vida como "ex-presidente" deve começar, o magnata republicano parecia cada vez mais desconectado do que está acontecendo na capital americana.

Nenhum representante de seu partido apoiou o impeachment anterior em 2019, e apenas um senador, Mitt Romney, votou para condená-lo. O presidente foi então absolvido da acusação de reter ajuda financeira para obrigar a Ucrânia a investigar uma suposta corrupção de seu adversário político Biden. Mas desta vez, o cenário é diferente.

Virar a página?

Em um sinal do que pode preocupar Trump e seu possível futuro político, Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado, disse a seus aliados, segundo reportagens do New York Times e da CNN, que via o "impeachment" favoravelmente, considerando que o julgamento tem fundamento e ajudaria o Partido Republicano a virar a página de Trump para sempre.

Em nota a seus colegas, McConnell afirmou nesta quarta que não tomou ainda uma decisão sobre o impeachment do presidente Donald Trump e não descarta votar a favor. "Pretendo ouvir os argumentos legais quando forem apresentados no Senado", disse.

Este estrategista inteligente, aliado altamente influente e crucial de Trump por quatro anos, pode ser a chave para o resultado desse processo histórico, porque poderia encorajar senadores republicanos a condenar o 45º presidente americano.

Os democratas assumirão o controle da Câmara alta em 20 de janeiro, mas precisarão convencer muitos republicanos para obter a maioria de dois terços necessária para a condenação.

De Álamo, no Texas, para onde viajou para comemorar a construção do muro na fronteira com o México, Trump tentou mostrar uma imagem menos agressiva, pedindo "paz e calma".

O presidente não assumiu nenhuma responsabilidade pelo incidente violento no Capitólio, garantindo que seu discurso foi "totalmente adequado". Seu vice-presidente, Mike Pence, se recusou a invocar a 25ª Emenda à Constituição, que permitiria declarar o republicano inapto para o cargo.

Apesar dessa rejeição, a Câmara de Representantes aprovou uma resolução simbólica pedindo que ele invocasse essa emenda. Ainda contando com o apoio de alguns parlamentares, o presidente está mais isolado do que nunca após uma série de renúncias em seu governo.

Criticado por sua demora em enviar a Guarda Nacional na quarta-feira, o Pentágono destacou até 15.000 membros para a posse. Inicialmente mobilizados para fornecer apoio logístico à polícia, seus integrantes começaram a portar armas na noite de terça-feira.

A exemplo da tensão que reina em Washington, o Airbnb anunciou o cancelamento e bloqueio das reservas em sua plataforma em Washington durante a semana da posse do futuro presidente dos EUA e o Google anunciou que a partir de quinta-feira bloqueará toda publicidade política.

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