Há cinco anos, o mundo tomou conhecimento e passou a usar o temo “Brexit”. Cunhado na esteira de um movimento de grupos da direita britânica que almejava a saída do Reino Unido do bloco da União Europeia (UE), o Brexit nada mais é do que a abreviação da expressão “British exit” (em português “saída dos britânicos”). Na última década, em especial a partir de 2016, o tema ganhou força dividindo em muitos pontos os mais de 65 milhões de habitantes das ilhas britânicas e gerando ampla repercussão mundo afora.
Em 23 de junho daqueles ano, um referendo deu o pontapé para que o Reino Unido, formado atualmente por Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, se tornasse o primeiro país - e até hoje o único -, a abandonar o bloco europeu.
Foram quase cinco décadas de participação. Na ocasião, 52% dos britânicos votaram pela saída, enquanto 48% defenderam a permanência. A margem apertada evidenciou um país dividido.
Entre os argumentos daqueles que defendiam o Brexit à época do referendo imperavam temas como a restrição da entrada de imigrantes; o aumento da soberania em assuntos internos como economia, saúde e segurança e a ampliação da possibilidade de negociar acordos bilaterais com outros países de acordo com os interesses locais.
Os que eram contra ressaltavam pontos como a maior dificuldade para cidadãos britânicos residirem em países da UE; o aumento de burocracias, geração de novas tarifas de exportação para nações do bloco, etc.
Fabio Gentile, cientista político com PhD em Filosofia e Política pela Universidade L'Orientale, de Nápoles, aponta que a decisão foi apertada porque foi “sofrida”. Para o pesquisador, o placar mostrou que “os ingleses entenderam que na conjuntura dos últimos anos, repleta de crises, separar-se poderia ser um problema. Muitos entendiam como um salto no escuro”, explica.
Essa divisão fez com que o processo de aprovação interno fosse longo e tortuoso. Com vários acordos rechaçados e adiados em diversas ocasiões, o Brexit fez com que os britânicos tivessem três primeiros-ministros em três anos.
O primeiro deles, David Cameron (2016), foi quem convocou o referendo. Defensor da permanência na UE, ele renunciou no dia seguinte ao resultado. Chega Theresa May (2016-2019), segunda mulher a ocupar o cargo no país, eleita com a missão de fazer com que o dividido parlamento britânico aprovasse o processo.
Sem sucesso na articulação, May deixou o poder sem conseguir emplacar o acordo. Veio então o atual premiê, Boris Johnson (2019-), com a promessa de manter linha-dura e formalizar a saída da UE, com ou sem acordo.
De fato, Johnson conseguiu dar andamento à questão formalizando a saída britânica, depois de novo adiamento e novas eleições parlamentares. O custo do Brexit aos cofres da coroa foi estimado em 30 bilhões de libras a serem pagas à UE.
Quando o Reino Unido saiu do bloco, Boris fez um pronunciamento afirmando que o momento era de usar a “soberania readquirida” para oferecer mudanças. "Seja controlando a imigração ou criando portos livres, libertando nossa indústria pesqueira, fazendo tratados de livre comércio ou simplesmente criando leis e regras para o benefício do povo deste país", disse, ao defender o acordo como um recomeço para todo o Reino Unido.
Tonight we are leaving the European Union. pic.twitter.com/CboWQzYRM4
— UK Prime Minister (@10DowningStreet) January 31, 2020
Em janeiro deste ano, passaram a valer mudanças previstas no acordo, dentre elas o fim da livre circulação de pessoas e capital, novos controles aduaneiros e a limitação de serviços antes sem restrições.
Fabio Gentile considera que o Brexit cria um paradoxo. “O acordo vem com a justificativa de proteger a economia nacional, mas essa economia foi produzida, também, a partir da livre circulação europeia e da mão de obra de países como Itália, França, Espanha e Portugal”, relata.
Desse ponto de vista, segundo o pesquisador, o acordo se configura como “uma decisão demagógica e populista, fruto de um ultranacionalismo ingrato com quem colaborou para o seu crescimento”.
Sobre o futuro e as consequências da saída britânica, o professor aponta que ainda "não são amplamente analisáveis", já que o período transitório acabou há seis meses e o mundo vive uma pandemia que provocou crise geral.
Entretanto, a população britânica já mostrou-se um tanto quando impaciente com a questão. Segundo pesquisa do You.gov de dezembro do ano passado, que desde o referendo questiona se os britânicos consideram correto ou não ter aprovado a saída da UE, 51% lamentavam a saída e 40% consideravam a decisão acertada.
O acordo também reabriu discussões - e feridas -, na região da Escócia e principalmente na Irlanda do Norte, que enfrentou décadas de tensão entre grupos separatistas e unionistas. Em ambos os territórios, a maioria da população optou por permanecer na UE.