Poucas histórias de políticos são capazes de me chamar atenção. Na grande maioria das vezes, são narrativas pré-fabricadas e que de tão maquiadas perdem contato com o real. Ao ler a história de Edson Veriato, "Potengi: o prefeito que ainda não tem paletó para a posse", publicada no OP , recuperei contato com uma dessas narrativas de gente saída da terra, de carne, osso e defeito.
Decidi, inclusive, visitar Potengi. Quero saber como é que um agricultor governa uma cidade. Agricultor, radialista, ativista comunitário, ex-líder estudantil, o prefeito só tem o ensino médio que deve ter concluído na única escola para essa faixa no município, de acordo com os registros do IBGE de 2020.
Lembro-me que viajei até Icapuí para conhecer o primeiro município do Ceará a colocar 100% das crianças na escola. Naquela época, isso era um feito. Meu marido achou uma doidice viajar sozinha com um bebê e duas meninas pequenas. "Não vou", ele disse. Eu fui e claro que não consegui nem sair da pousada porque o bebê teve febre logo na primeira noite após a chegada. Então, descobri que se em educação as coisas estavam bem, com a saúde, o ritmo era outro. O dono da pousada foi comprar remédio para o bebê e reclamou que não havia médico no fim de semana em Icapuí. No dia seguinte, voltei para Fortaleza para levar a criança ao médico.
Potengi fica encravada na Chapada do Araripe a 447 quilômetros de Fortaleza. Meu marido já aceitou o convite. Tem 11.106 habitantes de acordo com os dados projetados do IBGE para 2020. A renda mensal média no município é de 1,6 salário mínimo e 53,7% dos habitantes sobrevivem com até meio salário mínimo. Apenas 7,4% da população é ocupada e 95,5% da receita do município são de fontes externas. Os dados do IBGE revelam também que 92,7% das crianças de 6 a 14 anos frequentam a escola. Por outro lado, a taxa de mortalidade infantil é 7,87 por cada 1.000 nascidos vivos e apenas 7,8% dos domicílios tem cobertura de esgotamento sanitário.
Veriato está acostumado a lidar com a terra, parece ter disposição para conversar, e tudo indica que se entende muito bem com os jovens do lugar. A gente precisa tanto de lideranças políticas autênticas, não daquele tipo que mente dizendo que é nova política, mas de alguém que encare a política transformando-a cada vez mais na arte do bem comum. Desejo boa sorte a Veriato.