Periferias são territórios não hegemônicos, nelas não prevalece só uma cultura, um só perfil social e também não conta com só um organizador social. Suas formações enquanto bairros passam por processos distintos, mas uma coisa é comum em periferias: se partilham problemas coletivos.
E esses problemas se relacionam com a ausência do estado e de serviços públicos de qualidade. Desde a precarização da escola, do posto de saúde, à falta de saneamento básico, a ausência de lazer e políticas culturais.
A partilha da precarização dos serviços públicos somados à longa distância dos bairros periféricos dos centros comerciais e dos locais de trabalho geram um traço comum nessa vivência territorial, formando o "sujeito periférico".
Nas últimas eleições as periferias entraram no centro do debate. Ao passo que empresários descobriram que a favela consome, políticos também descobriram que ela vota, e assim logo se concluiu a necessidade de direcionamento dos seus discursos, mas o que mais se viu durante as campanhas foi uma tentativa de aproximação através do apelo estético com músicas hits, gírias e o uso do óculos Juliet, muito presente no gosto da juventude periférica.
Se sobrou na estética, faltou muito nos programas políticos. A solução mais efetiva para sanar as brutais desigualdades está na construção de políticas públicas, mas não somente, é preciso que as periferias pensem essas políticas, e também executem.
O poeta das periferias, Sérgio Vaz, em texto chamado "Primavera Periférica", nos brinda com a reflexão de que estaríamos vivendo uma efervescência cultural e intelectual, esse levante mais que um apelo identitário reflete a necessidade de auto-organização para que vozes marginalizadas fossem ouvidas e nunca mais "ouvir do Ipiranga às margens plácidas".
Uma vez ouvi que "periferias fazem políticas públicas todos os dias", me lembrar dessa frase me faz observar que batalhas de rima, saraus, os reggaes presentes nas praças dos bairros feito de forma inteiramente independente não são apenas simples expressões espontâneas, mas sobretudo, são organizações sociais e uma reivindicação subjetiva, que diz: ainda estamos aqui, com ou sem apoio, fazendo políticas públicas pelas nossas próprias mãos.
No entanto, políticos e gestores que deveriam pensar na redução das desigualdades, na verdade a reforçam quando separam os que pensam políticas públicas, dos que executam. Pensar na redução de desigualdades não se faz com a manutenção da passividade do voto, mas sim através da descentralização do poder de decisão.
Respeitando assim a pluralidade das periferias, seus atores e protagonistas, construindo espaços para que as realidades sejam conhecidas e que de uma vez por todas sejamos ouvidos.