Tomei a liberdade de adaptar à realidade do Oriente Médio, a célebre frase de Raymond Aron sobre a Guerra Fria. Na versão original, a expressão é: "Guerra improvável, paz impossível."
A razão para essa adaptação está no agravamento dos conflitos na região, seja pelas ações do Hamas, pela reação de Israel - notadamente na Faixa de Gaza e no Líbano -, pelos conflitos no Iêmen, pela guerra civil na Síria e os embates entre Israel e o Irã. Há um desequilíbrio de poder que resulta na desestabilização da ordem regional.
O caso do Irã é emblemático. O país enfrenta o embargo econômico liderado pelos Estados Unidos; encontra-se militarmente enfraquecido pelas ações israelenses que comprometeram seu sistema de defesa; e sofre com a perda recente de aliados, como: a Rússia, envolvida na guerra contra a Ucrânia; a Síria, atualmente sob influência turca; o Iraque, mergulhado em insegurança interna; e o Hezbollah, enfraquecido após os ataques de Israel no Líbano.
A estratégia de resiliência da República Islâmica está concentrada no programa de enriquecimento de urânio, com o objetivo de dominar a produção de energia termonuclear e viabilizar a fabricação de armas e mísseis. Embora, o discurso oficial sustente apenas a produção de energia para fins pacíficos.
As forças armadas iranianas atuaram, nas últimas décadas, como um contrapeso ao poder de Israel no Oriente Médio. É relevante recordar o êxito do Irã na guerra contra o Iraque, mesmo com este sendo apoiado por países ocidentais - inclusive pelos Estados Unidos.
A fragilidade do Irã interessa não apenas a Israel, mas também aos Estados Unidos, cujo objetivo é enfraquecer ao máximo o país persa. Isso permitiria negociar o acordo nuclear em termos desfavoráveis ao Irã e, no médio prazo, promover a queda do regime dos aiatolás, patrocinando a implantação de um novo governo alinhado à liderança dos EUA e à da Arábia Saudita - que vê no Irã o rival direto pela hegemonia sobre o mundo muçulmano.
O cenário de um Irã acuado militarmente, sem aliados significativos, economicamente fragilizado e sem perspectivas concretas de desenvolver seu programa militar, abre espaço para um fenômeno recorrente no Oriente Médio, desde o fim dos anos 1960: as derrotas militares dos Estados da região fomentaram o radicalismo, que encontrou nas ações terroristas sua principal forma de expressão, transformando a violência em uma estratégia de enfrentamento diante da impotência militar convencional.
A violência segue sendo a realidade mais provável no cotidiano do Oriente Médio. Já a paz - mesmo que circunstancial - permanece uma possibilidade distante. Em outras palavras: a guerra é provável, a paz parece impossível.