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Deslumbramento Fatal
Opinião

Deslumbramento Fatal

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Presidente Lula na reunião de cúpula dos Brics (Foto: PABLO PORCIUNCULA / AFP)
Foto: PABLO PORCIUNCULA / AFP Presidente Lula na reunião de cúpula dos Brics

O Brasil permanece como o único membro dos Brics que não consegue avançar em negociações efetivas sobre tarifas com os Estados Unidos, situação oposta à de parceiros como China, Índia e agora também África do Sul, que já fecharam acordos importantes visando mitigar impactos do protecionismo americano. Enquanto esses países agem com pragmatismo para defender seus mercados, Lula insiste numa linha ingênua e equivocada, marcada pelo deslumbramento com a China, sem perceber que Pequim explora ativamente essa relação em benefício próprio.

As ações recentes de Lula, intensificando contatos com Xi Jinping e Vladimir Putin, revelam uma tentativa imprudente de provocar ainda mais os Estados Unidos — movimento calculado para fortalecer sua base eleitoral em 2026, mas que pune diretamente o setor produtivo brasileiro. Esses gestos trazem efeito inverso ao desejado: ao invés de pressionar Washington, aceleram o isolamento comercial do Brasil e contribuem para o aumento do prejuízo imposto ao agronegócio e à indústria.

A realpolitik chinesa se evidencia nos últimos anúncios. Em negociações recentes, a China assumiu o compromisso de comprar maiores volumes de soja e carne dos Estados Unidos, visando abrir concessões a Washington. Isso ocorre paralelamente a discussões sobre a suspensão parcial de tarifas e à liberação, pelos EUA, da exportação de chips avançados da Nvidia para o mercado chinês, um gesto que simboliza o avanço pragmático nas negociações. Como resultado, Pequim não hesitará em rifar o Brasil, reduzindo significativamente as importações de commodities nacionais tão logo consiga termos mais vantajosos junto aos americanos.

A fragilidade da condução brasileira ficou ainda mais exposta quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teve cancelada sua reunião com Scott Bessent, secretário do Tesouro americano, após o Brasil anunciar acordos econômicos com Rússia e China no mesmo dia, acenando publicamente contra os interesses dos EUA. O resultado é o agravamento do isolamento: Nosso país perde mercados, vê sua competitividade comprometida e assiste à China fechar acordos estratégicos com os americanos diante da ingenuidade de Lula, desta vez, punindo o agronegócio nacional.

O paradoxo é contundente. Lula abandona o pragmatismo para apostar numa relação desequilibrada, ignorando que a China age friamente para garantir vantagens — e está pronta para deixar o Brasil à margem em nome de acordos bilaterais mais lucrativos com Washington. Deixar o orgulho vazio de lado e aposentar um antimericanismo juvenil, retomando o diálogo direto, realista e produtivo com os Estados Unidos é fundamental para garantir a sobrevivência e a prosperidade do setor produtivo nacional. O governo Lula já cumpriu sua cota de erros nesta crise com louvor. Já passou da hora de mudar de estratégia.

 

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