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Gabriel Aguiar: Floresta do Aeroporto
Opinião

Gabriel Aguiar: Floresta do Aeroporto

Certamente as iguanas, raposas, guaxinins e gambás, achavam que ali, pelo menos naquele pedacinho, seriam poupados. Os soins, inocentes, não sabiam que brincavam ali pela última vez. Tudo foi perdido em poucos dias. Sem misericórdia
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Gabriel Aguiar

Vereador (Psol), em Fortaleza

Eu estava enganado. Pensei que tínhamos virado uma página, pensei que as falas, eventos pomposos, assinaturas de cartas de compromissos, discursos emocionados sobre justiça climática, a pose de defensores da causa animal, a inserção da palavra clima na secretaria de Meio Ambiente significavam alguma coisa. Não achei que significava muito, mas que significava alguma coisa. Pelo menos o suficiente para não acharem razoável devastar 40 hectares de floresta de mata atlântica preservada na capital do Ceará, Fortaleza.

Há incontáveis décadas a floresta estava lá, com sua fauna e flora exuberantes, percebidas de olhos fechados na paisagem sonora, com uma orquestra de cantos de pássaros que celebravam o nascer do sol todos os dias, sem saberem o que estava por vir.

Certamente as iguanas, raposas, guaxinins e gambás, achavam que ali, pelo menos naquele pedacinho, seriam poupados. Os soins, inocentes, não sabiam que brincavam ali pela última vez. Tudo foi perdido em poucos dias. Sem misericórdia.

A ganância sem fronteiras da Fraport aliou-se às facilidades da Semace, devastou a mata, sumiu com a fauna e com os serviços ambientais que beneficiavam as comunidades, drenagem e conforto térmico, mas revelou algo.

A mata removida descortinou um enorme espelho dágua, manancial esquecido que fora mapeado em 1995 e seguia exibindo água em abundância, mesmo no período seco. Essa Área de Preservação Permanente, calo na bota alemã, impede que a área seja construída, trata-se de área protegida pelo Código Florestal, já ilegalmente devastada.

A derrubada relâmpago da floresta não seguiu a lei. Sem estudo fitossociológico, não poderiam dizer que a floresta era inicial, mas disseram. Falaram que as árvores imensas com décadas de vida eram arbustos e herbáceas. Claro, porque a floresta madura seria imune ao corte, como prevê a Lei da Mata Atlântica e o Decreto que a regulamentou. Além de Semace, Fraport e Elmano, a palavra que salta quando assistimos, boquiabertos, essa cena infernal é outra: fraude.

 

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