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Fraport tem de replantar a Floresta do Aeroporto
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Demitri Túlio é editor-adjunto do Núcleo de Audiovisual do O POVO, além de ser cronista da Casa. É vencedor de mais de 40 prêmios de jornalsimo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. Também é autor de teatro e de literatura infantil, com mais de 10 publicações

Fraport tem de replantar a Floresta do Aeroporto

A autorização da Semace revela que os fiscais do órgão nem lá foram para uma visita prévia nem durante o desmatamento gigantesco
Tipo Crônica
Fraport tem de replantar a Floresta do Aeroporto  (Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos Fraport tem de replantar a Floresta do Aeroporto

Chega fere o corpo, aperreia o juízo e não há como não doer por cada árvore derrubada, por cada bicho morto ou enxotado de seu lugar de casa. De seu estado, também, de ser vivo nessa Casa Comum que não é apenas dos humanos. O antropocentrismo enlouquece a gente.  

Não há outra coisa a se fazer em relação aos mais de 46 hectares de floresta devastados pela Fraport/Aerotropolis Empreendimento e a arrogância dos alemães; com a conivência da Superintendência do Meio Ambiente do Ceará (Semace)... tem de replantar tudo que foi extinto ali.

O Ministério Público precisa exigir, urgente, e a Justiça cearense tem de obrigar. Vai fazer o que, se não isso? Aplicar multas brandas? Compensações ambientais? Compra de carbono? E a vida desaparecida da mata e as consequências para a Cidade?

 

 

Os anos que a natureza levou pra ser floresta, pra ser oxigênio, pra ser bicho, para "produzir serviços ambientais" para Fortaleza! E em dois ou três dias, na surdina e com uma autorização criminosa destruir tudo?

Já passou da hora de órgãos ambientais, gestores públicos e políticos tratarem floresta, bicho, rio, lagoa, a natureza com direitos inarredáveis de lugar de existência e imprescindibilidade.

Ninguém chega num condomínio de gente rica e classe média e destrói tudo como se as criaturas não valessem nada e não fossem naturais de direitos. Sabe-se que nas favelas se faz como se desmatou no Aeroporto.

 

"A autorização da Semace revela que os fiscais do órgão nem lá foram durante o desmatamento gigantesco"

 

São reprováveis a preguiça burocrática e a insensibilidade da Semace que autorizou o desmatamento criminoso dos "46,1000 hectares" da Floresta do Aeroporto. Está no documento de "Exploração e de Supressão da Vegetação" a maneira como o órgão ambiental trata árvores, bichos e uma veia d'água.

"A supressão da vegetação deverá iniciar sempre no sentido que favoreça a fuga da fauna para áreas vizinhas com vegetação". Ora, ao redor há asfalto, condomínios, comércios, casas, fábricas, ocupações irregulares, trilhos, carros, pista de aviões...

A autorização da Semace revela que os fiscais do órgão nem lá foram para uma visita prévia nem durante o desmatamento gigantesco. "Não é permitido a caça, comercialização, destruição de ninhos, coleta de ovos e maus tratos a animais".

 

 

Como autorizar o desmatamento de mais de 46 hectares sem enviar, antes, peritos para avaliar a mata? E sem inventário de fauna e flora? É assim que se autorizam as "supressões" de florestas no Ceará?

O que se viu, em imagens feitas nos dias seguintes à matança da floresta, foi bicho atordoado com a falta da mata que desapareceu violentamente de um dia para o outro, como denunciou o vereador Gabriel Aguiar (Psol). 

Fosse um governo comprometido com as mudanças climáticas por causa da extinção ano a ano do meio ambiente, o superintendente da Semace e a secretária da Sema já teriam sido substituídos. 

 

 

Foi criminoso derrubar um remanescente de Mata Atlântica, numa Área de Proteção Ambiental (APP) e onde um olho d'água dava de beber. E, um dia depois, a própria Semace e a Sema constataram que houve um crime ambiental autorizado pela própria superintendência do Meio Ambiente. 

Recebi do geógrafo e cientista da UFC, Marcelo Moro, um mapa que mostra o quanto Fortaleza perdeu de vegetação original. É inacreditável! Há apenas 16% de áreas originais e seminaturais remanescentes; 84% das florestas foram extintas. 

É o estudo "Quanto sobra de Verde em uma metrópole? Um estudo sobre a cobertura vegetal Remanescente em Fortaleza", de Ligia Farias, Jader de Oliveira, Liana Rodrigues e Marcelo Moro.

A última floresta extinta, que se sabe, foi a do aeroporto Pinto Martins. A alemã Fraport terá de ser condenada a replantar integralmente a mata. Foi crime.

 

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