Logo O POVO+
Robinson de Castro: A reforma é tributária ou de preço?
Opinião

Robinson de Castro: A reforma é tributária ou de preço?

.Na prática, é uma reforma que impacta o preço, a estratégia e o futuro dos negócios. O momento exige mais do que atenção: exige ação. Quem estiver preparado, sairá na frente
Edição Impressa
Tipo Opinião Por
Foto do Articulista

Robinson De Castro

Articulista

Aprovada como uma das mais relevantes mudanças estruturais das últimas quatro décadas, a Reforma Tributária reacende discussões que ultrapassam o campo técnico e tocam diretamente a sobrevivência dos negócios. Não se trata apenas de uma reorganização da estrutura de arrecadação, mas de um fator que pode alterar margens, preços e cadeias produtivas de forma profunda e duradoura.

Diante disso, proponho uma reflexão: estamos mesmo diante de uma Reforma Tributária ou, na prática, de uma Reforma de Preço?

O novo modelo do IVA dual - composto pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) - pretende simplificar o sistema e corrigir distorções históricas como a cumulatividade, a guerra fiscal entre estados e os regimes diferenciados. No entanto, a mudança na forma de apuração e recolhimento trará efeitos inevitáveis sobre os preços finais dos produtos e serviços.

Empresas que hoje operam em modelos monofásicos, acumulam créditos tributários ou se beneficiam de incentivos regionais precisarão reavaliar urgentemente seus custos. Em muitos casos, a margem de lucro pode ser comprimida, e o reposicionamento de preços será inevitável. Por outro lado, setores até então sufocados pela complexidade tributária poderão ganhar competitividade.

Por exemplo, uma indústria que hoje opera sob regime cumulativo poderá ver seu custo tributário real aumentar, exigindo revisão imediata nos preços repassados ao varejo e ao consumidor final. Já empresas de serviços, especialmente as que não se creditam de insumos, precisarão estudar cuidadosamente o novo impacto em suas margens.

É nesse ponto que entra a contabilidade estratégica. Mais do que apurar tributos, ela passa a ser essencial para a sobrevivência e longevidade dos negócios. O contador se transforma em um parceiro de análise de custo, de reestruturação da cadeia produtiva, de revisão contratual e de precificação baseada em dados reais.

Temos acompanhado de perto as diretrizes da reforma e orientamos os empresários a se anteciparem. A reforma exigirá não apenas conformidade legal, mas também adaptação de processos internos, novas ferramentas de gestão e, sobretudo, uma leitura clara do impacto econômico nas decisões comerciais.

O que está em jogo não é apenas o cálculo de tributos, mas a saúde financeira, a precificação e a sustentabilidade dos negócios no médio e longo prazo.

A reforma é tributária no texto da lei. Mas, na prática, é uma reforma que impacta o preço, a estratégia e o futuro dos negócios. O momento exige mais do que atenção: exige ação. Quem estiver preparado, sairá na frente.

O que você achou desse conteúdo?