Em diversos países, opositores aos governos estabelecidos enfrentaram prisões, processos judiciais ou cassações que os afastaram da vida pública. Da França à Venezuela, da Nicarágua à Turquia e também no Brasil, a narrativa oficial foi a mesma: excluir adversários com reais chances de vitória eleitoral sob o argumento de "proteger a democracia".
Marine Le Pen, na França, foi condenada a multa e declarada inelegível. Leopoldo López, na Venezuela, recebeu pena de 14 anos de prisão. María Corina Machado foi tornada inelegível por 15 anos, sem julgamento. Cristiana Chamorro, da Nicarágua, foi presa após anunciar candidatura e cumpre prisão domiciliar. Ekrem Imamoglu, na Turquia, teve eleições anuladas após condenação. No Brasil, Jair Bolsonaro foi condenado a 27 anos de reclusão, além de multa e inelegibilidade. Casos semelhantes também atingiram nomes como Calin Georgescu, na Romênia.
Os autoritários raramente se reconhecem como tais. O discurso oficial é sempre o mesmo: barrar o adversário em nome da democracia. Exemplos recentes incluem declarações do governo alemão, que classificou um partido de direita como "incompatível com a democracia", ou do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao afirmar que "a democracia está enfraquecida e o extremismo de direita está ganhando espaço". Assim, em vez de debater ideias, líderes optam por silenciar opositores.
Esse processo não se limita à cassação de direitos políticos. A hostilidade alimentada pelo discurso oficial muitas vezes desemboca em violência. A história já registrava esse padrão, como no relato bíblico do livro de Atos (12:2), que descreve a execução do apóstolo Tiago a mando de Herodes. Hoje, a intolerância se repete: o assassinato do líder conservador americano Charlie Kirk, em Utah, soma-se às mortes de Miguel Uribe Turbay (Colômbia), Fernando Villavicencio (Equador), Shinzo Abe (Japão), Sir David Amess (Reino Unido) e Walter Lübcke (Alemanha), além das tentativas de assassinato contra Donald Trump e do atentado contra Jair Bolsonaro.
O direito à discordância é essencial, mas não pode significar o direito de eliminar o adversário. Quando o ódio vale mais do que a vida, abre-se o caminho para a destruição da humanidade. Somente a liberdade de expressão e o respeito à divergência podem garantir que a democracia sobreviva ao ódio travestido de virtude.