Qual a manchete mais palpitante desta semana? Trump estrompando a Venezuela ? Israel que, por fim, pôs fim às suas festas juninas? O Congresso que legisla defronte do espelho ? A mais importante notícia destes dias, talvez tenha passado despercebida da maior parte dos cairirienses.
E é bem possível que este cronista seja logo tachado de louco, quando anunciar a mais importante notícia desta semana. Pois é! O que mais deslumbrante aconteceu nestes dias no nosso mundinho foi justamente a floração dos ipês.
De repente, como se previamente combinado, eles revestiram-se de um roxo fosforescente e tingiram toda a Chapada, como que anunciando uma páscoa tardia e atemporal. Aos poucos, num lúbrico strip-tease, peça após peça, os ipês se foram desnudando.
Em poucos dias começaram a revestir o chão com suas vestes: pétalas, que carregadas pelas asas do vento, em feito de manto, agasalharam as terras caririenses com um violeta algo esmaecido, mas iridescente.
Mal terminara o show, já os ipês amarelos tomam de assalto o palco da natureza e florescem um dourado quase que incandescente. Os pés-de-serra, súbito, têm a monotonia do verde quebrada pelo áureo dos ipês lhes imprimindo tons patrióticos, junto com o branco das nuvens, o azul do céu e o agora verde-amarelo das matas.
A Chapada, ao longe, assemelha-se a uma bandeira desfraldada, tremeluzindo ao sabor da brisa. Nestes dias, as terras caririenses já se recobrem de um tapete auricolor.
Os ipês, novamente, desvestiram suas ricas roupas e como que estendem aos hipnotizados passantes uma esteira dourada onde possam sentar e apreciar a vida com todas suas nuances e cambiantes tonalidades.
O toque monocórdico do escritório sequer entende a infinitude de lições que brotam junto com a floração dos ipês. A vida que emerge em ciclos e que brilha em matizes diferentes a cada diferente estação.
A florescência que anuncia multiplicidade e eternidade , polinizando o mundo e fertilizando a terra. A grandeza de perceber que as mesmas pétalas que encantam os olhos e douram a natureza na primavera serão o humilde tapete e a delicada alcatifa que no outono confortarão os pés cansados do viandante.
E mais que tudo a beleza da vida dura um único, inefável e etéreo momento, que se esvai num átimo, como a fulgurante floração dos ipês.
Num piscar de olhos, o êxtase foge de nossa vista e só servirá de lembrança e de manto nos dias de inverno que se já prenunciam.
E a imprime-nos a lição de que a queda é inevitável, mas que é sempre possível deixar um tapete dourado e reluzente para os que virão. A vida é já.