Os resultados das eleições sinalizaram o enfraquecimento do Partido Socialista (PS), o avanço expressivo do Partido Social Democrata (PSD) e a consolidação da presença do Chega, que conquistou três câmaras municipais.
As eleições autárquicas em Portugal, realizadas em 12 de outubro de 2025, trouxeram mudanças significativas no poder local e merecem atenção do Brasil — tanto pelas semelhanças históricas entre os sistemas democráticos dos dois países quanto pelo avanço de forças conservadoras no cenário português.
Neste pleito, foram eleitos representantes para as Câmaras Municipais (poder executivo), as Assembleias Municipais (órgãos deliberativos compostos por membros eleitos por sufrágio direto e universal e, por inerência, pelos presidentes das juntas de freguesia) e as Assembleias de Freguesia — uma estrutura que descentraliza a administração pública e reforça o papel das comunidades locais na política.
Os resultados sinalizaram o enfraquecimento do Partido Socialista (PS), tradicionalmente dominante, e o avanço expressivo do Partido Social Democrata (PSD), além da consolidação da presença do Chega, que conquistou três câmaras municipais.
Embora o partido não tenha repetido o desempenho obtido nas eleições legislativas nacionais, seu crescimento, sustentado por um discurso populista e nacionalista, evidencia a ampliação do espaço político da direita radical em Portugal — um fenômeno que acompanha o fortalecimento de agendas conservadoras em várias democracias ocidentais.
As listas independentes e coligações alcançaram cerca de 36,8% dos votos, enquanto o PS obteve 28,5%, revelando um cenário fragmentado e competitivo. Em 62 câmaras municipais, a diferença entre candidatos foi inferior a 5%, reflexo de um eleitorado dividido e atento às questões locais, mas também sensível a temas nacionais como imigração, segurança e economia — centrais na retórica do Chega.
Para o Brasil, acompanhar esse processo é relevante não apenas pelo vínculo histórico e cultural, mas também por suas implicações políticas. Assim como o Chega em Portugal, forças conservadoras radicais têm conquistado espaço nas disputas municipais e estaduais brasileiras.
Observar como essas correntes se articulam em democracias consolidadas ajuda a compreender a transformação dos discursos políticos, o papel das redes sociais e o impacto do populismo de direita na governança local.
O sistema português, mais descentralizado que o brasileiro, permite que essas mudanças se expressem de forma mais granular, em concelhos e freguesias, refletindo dinâmicas locais de poder e identidade. Já no Brasil, onde as eleições municipais se concentram em prefeitos e vereadores, o impacto dessas forças tende a ser mais visível nas capitais.
Em síntese, as eleições autárquicas de 2025 revelaram um país em reconfiguração política — com maior competitividade, presença crescente de forças conservadoras no poder local e fortalecimento da lógica de proximidade democrática. A experiência portuguesa oferece, assim, um espelho e um alerta ao Brasil sobre as novas formas de disputa e polarização que se desenham nas democracias contemporâneas.