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Tarcísio Matos: No céu dos bonecos, dizendo "me aguarde!"
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Opinião

Tarcísio Matos: No céu dos bonecos, dizendo "me aguarde!"

Na TV Jangadeiro tive a honra de trabalhar com ele, dando o grau em esquetes, partilhando e aprimorando causos. Aprendi muito com esse Bonequeiro de muitos bons bonecos. Fizemos rádio, CD de piadas e de músicas
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Tarcísio Matos. Cronista do O POVO, jornalista, produtor e compositor. (Foto: O POVO+)
Foto: O POVO+ Tarcísio Matos. Cronista do O POVO, jornalista, produtor e compositor.

Se tomarmos como base o lado trash do “bonequeiro” - sujeito presepeiro, bagunceiro, perturbador da ordem, praticante de arruaças, que escandaliza e apronta rolo -, o criador Augusto César Barreto Oliveira, pessoa física, passou longe. O “gigolô de Seu Encrenca”, ao contrário, era da paz: manso, sensível, generoso, disciplinado, profissional do riso mais único que raro: talentoso, criativo, inspirador. Amigo de todas as horas, tinha a piada na ponta da língua e uma gaitada contagiante.

Quando entrava em cena acompanhado de um boneco, a transformação era certa, esculhambação graúda: plateia se abrindo em gargalhadas com ocara “munganguento”, fuleiro, ferino, gaiato - “ventriloquente”.

Pernambucano de nascimento, o mestre do mamulengo chegou ao nosso estado há 45 anos e nunca mais deixou de botar seu impagável boneco. Figura da televisão (Encrenca, Cassimiro, Chibata) e dos palcos (Fuleiragem), era âncora plantonista: as piadas vinham, sobretudo, do dia a dia. Entre os bordões, “Me aguarde!” foi o mais famoso. Havia outros: “Tabaco demais é fumo!”, “Em matéria de tal e coisa, tudo mais é isso mesmo!”, “É fumo, meu filho!”

Internalizando o jeito cearense de fazer humor, ele se referenciou na terra de Quintino e Chico Anysio, fazendo o Brasil “se lascar de rir” das potocas que criava - roteirista dos próprios personagens. Augusto, sem perder o sotaque do torrão natal, fez escola. Botou “boneco federal”, mantendo constância e disciplina.

A televisão acelerou sua fama. E foi lá, na Jangadeiro, que tive a honra de trabalhar com ele, dando o grau em esquetes, partilhando e aprimorando causos. Aprendi muito com esse Bonequeiro de muitos bons bonecos. Fizemos rádio, CD de piadas e de músicas.

Uma dele. Na Paraíba, onde fez o “Seu Chibata”, o noticiário falava da fabricação, envase e comercialização de cachaça caseira por ‘microempresários encarcerados’, tudo dentro do presídio de segurança máxima. Como de praxe, o boneco pega o telefone e disca para o secretário de Polícia:

- Quer dizer que estão comercializando cachaça falsificada no presídio de segurança máxima, Sr. Secretário? Pois olhe, bota esses homens na cadeia!

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