A megaoperação no Rio de Janeiro ganhou repercussão mundial. Seu principal objetivo era conter o avanço do tráfico e frear as catastróficas consequências causadas pelo crime organizado nos mais diversos setores da sociedade. Aqui no Ceará, o cenário é o mesmo. E explico, para que não fiquemos reféns dos “achismos”.
Outubro de 2025. Dia das Crianças. Uma data que deveria simbolizar alegria, mas que virou tragédia. Um menino de apenas quatro anos foi assassinado com um tiro na cabeça, no colo do seu familiar em Sobral. Caso isolado? Longe disso. Um dia antes, em 11 de outubro, o Ceará registrou o segundo dia mais violento do ano: 18 homicídios em apenas 24 horas.
E como explicar a morte de Dona Ione, fria e cruelmente executada por se recusar a envenenar policiais a mando de uma facção? São esses mesmos criminosos que, assim como no Rio, trocam tiros de fuzil com a polícia, lançam granadas por drones, extorquem comerciantes, expulsam moradores e matam com o único objetivo de demonstrar poder. É o sangue derramado para intimidar e dizer: “Aqui no Ceará, quem manda é o crime, não o governo.”
Nem mesmo a sensação de segurança, ainda que ilusória, antes proporcionada pelas viaturas nas ruas, existe mais. E sabe por quê? Faltam viaturas. Muitas estão inoperantes, abandonadas em pátios que mais parecem cemitérios de dinheiro público. Enquanto isso, o crime age rápido e já produz sua própria viatura, como a encontrada em Mulungu. Polícia sem transporte e a facção com viaturas fake, essa nem no Rio.
Vamos além: nossos policiais, mal equipados e sem apoio do Estado, enfrentam uma guerra desigual contra facções cada vez mais organizadas que, pasmem, já instalaram câmeras nas ruas para monitorar a polícia e possuem armamento de guerra, como o fuzil .50, uma arma capaz de derrubar helicópteros e aviões de pequeno porte, apreendida no interior do Estado.
Já o governo insiste num discurso perigoso e desconectado da realidade, repetindo que o Estado “tem o controle da situação”. Sua ação mais ousada contra o crime foi mandar pintar muros com frases de efeito. Mas o marketing do gabinete do governador Elmano não segura o avanço da criminalidade. Nem o prédio da Secretaria da Segurança Pública escapou, alvejado a tiros nesta semana. Se o coração da segurança não está protegido, imagine quem vive nas periferias.
O que acontece no Rio é o reflexo do que vivemos no Ceará: um Estado paralelo se consolidou, com leis e comandos próprios, que se impõem sobre o poder público. Vivenciamos o colapso de uma política de segurança ineficaz, que falha em proteger vidas inocentes.
O resultado está nas ruas: pessoas que convivem diariamente com o medo e um sentimento de abandono que cresce a cada dia. O povo cearense precisa urgentemente de um governo que assuma a realidade, enfrente o crime com pulso firme e devolva à população o direito básico de viver sem medo.