É um imenso desafio conceber um novo mundo, uma tarefa tão urgente quanto difícil. A COP30 e todos os esforços a ela associados fazem parte dessa iniciativa. Um esforço transnacional para imaginar saídas para este modelo de vida.
Um mundo é, sobretudo, um modo de organização das nossas relações com o tempo, com a natureza, com os semelhantes e não semelhantes. Uma forma de ser e de fazer, de pensar e decidir que nos constitui individualmente e também como sociedade. Somos ocidentais, filhos da modernidade: nosso mundo é fundado na exploração dos recursos naturais até o limite do aproveitamento para fins econômicos. Uma cultura de identidades nacionais defensivas, arredias ao acolhimento das diferenças e dos trânsitos.
Este mundo está se desfazendo. Por isso estamos mais doentes, os acontecimentos climáticos extremos estão mais frequentes, as guerras voltaram à pauta dos Estados. Na crise, sempre há uma oportunidade de transformação. É Edgar Morin quem nos ensina: a cada fim, uma chance se apresenta para que possamos reiniciar em novas bases.
O primeiro passo é entender as disputas e contradições. A COP 30 tem oferecido exemplos ricos dos valores em debate, justamente porque ocorre na Amazônia, onde é impossível evitar a realidade. É nesse espaço geográfico vulnerável e rico que podemos sentir o ponto de limite ao mesmo tempo em que vislumbramos um potencial de futuro próspero e sustentável.
Veja o exemplo ocorrido no dia de ontem, quando um grupo de indígenas da etnia Munduruku bloqueou por horas a passagem nos portões de entrada do pavilhão principal da cúpula em Belém, em protesto pela aprovação do decreto que estabelece o Plano Nacional de Hidrovias. O documento inclui os rios Tapajós, Madeira e Tocantins como vias prioritárias para transporte de cargas.
As comunidades tradicionais argumentam que a exploração do transporte, tal como projetada, terá um impacto ambiental irreversível. Diante do impasse, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, se apresentou para dialogar com os indígenas e articulou um encontro entre as lideranças e as ministras do meio ambiente e dos povos originários.
Batendo à porta, a floresta não pôde ser ignorada: ela convidou a pensar sobre as nossas bases econômicas, sobre a lógica de produção e exploração dos recursos. Ela nos força a avaliar o que é a riqueza, o que devemos preservar e qual a conveniência da acumulação.
A atitude de Corrêa mostrou-se coerente com o espírito da cúpula, porque a saída só pode se dar pelo diálogo e na abertura ao novo, na aptidão para refletirmos sobre a conveniência do apego ao passado. Há alternativas possíveis. Elas só nos pedem um pouco mais de esforço, inteligência e capacidade de negociação.