Em artigo anterior sugeri que o Brasil poderia adotar a política da moeda nacional subvalorizada para os negócios de exportação e importação com os Estados Unidos. Chamo a atenção que o Brasil já adotou essa política, com o uso de taxas cambiais diferenciadas em seu comércio internacional. Assim, isto não seria novidade.
Mas, qual a justificativa para o emprego de tal política? Primeiro é o apelo dos empresários para o uso de política tarifária. O problema é que o Tesouro Brasileiro está deficitário. Assim, qualquer benefício nessa área, acarretaria maior pressão sobre ele. Da mesma forma o cancelamento de dívidas, se existirem, das empresas prejudicadas, também pressionaria o Tesouro. E a compra por parte do governo dos produtos não exportados só se aplica para determinados bens, principalmente os de primeira necessidade.
Dadas estas considerações é que advogo o uso da política cambial como uma alternativa menos danosa aos cofres federais. A minha ideia é a adoção do real subvalorizado, tanto para as exportações das empresas brasileiras, como para as suas importações. Mas, somente para os negócios com os Estados Unidos.
Quais as consequências dessa política? No que diz respeito às importações ela funciona como um encarecimento dos preços e, portanto, tende a diminuir essas transações. Assim, ela funciona como um "tarifaço" contra os bens importados daquele país.
E quanto às exportações? Neste caso, ela funciona como um adicional de preços, um ganho "extra". Outra consequência é que não haveria pressão sobre o Tesouro. Chamo a atenção que em relação aos outros países a taxa cambial seria uma só, sem a característica da subvalorização do real.
Também faço a ressalva que o Bacen poderia ter perdas cambiais nos negócios com os EUA, a depender do saldo do Balanço de Pagamentos com aquele País.
Veja-se que quando há exportação, o Bacen recebe divisas e entrega Reais aos exportadores. Quando há importação ele recebe Reais e entrega divisas. Como, normalmente, o saldo do balanço comercial Brasil/EUA é negativo, o resultado seria um "ganho" em Reais e uma "perda" em divisas. Se o resultado do balanço comercial for positivo, o resultado seria o inverso.
Entretanto, o efeito sobre a política monetária no Brasil, mesmo na primeira hipótese, não seria de grande monta, haja vista que, conforme as últimas estatísticas publicadas pelo Bacen, em 2025, o Papel Moeda em Circulação no Brasil situa-se em torno de R$347,3 bilhões, o que equivale a, aproximadamente, 3,13% do PIB.
Desta forma a política de câmbio diferenciado, neste caso, não será danosa nem para a política tarifária, haja vista que não afeta o Tesouro, nem para a política monetária, pois não há pressão inflacionária.