A discussão sobre a Zona de Proteção Ambiental (ZPA) no entorno do Aeroporto Internacional Pinto Martins traz um importante desafio: reparar raízes e construir o futuro. Na periferia da pista, vivem famílias que carregam o peso da desigualdade urbana há décadas.
O bairro Aeroporto tem um dos menores índices de desenvolvimento humano (IDH) de Fortaleza: 0,18. Está na 110ª posição entre 119 bairros medidos. A Aerolândia pouco acima disso. A renda média deles é de R$1.600, estando respectivamente em 106° e 101º lugares no ranking da cidade. Esses bairros, junto à Vila União, formam um território onde a pobreza convive diariamente com o ruído dos aviões, o som do progresso que raramente pousa por ali.
Transformar a área do complexo logístico em Zona de Proteção Ambiental pode parecer um gesto nobre. Mas o que é verde no papel pode ser cinza na vida real, se não gerar dignidade para as mais de 30 mil pessoas que moram ao lado. Sustentabilidade não se mede só pela quantidade de árvores preservadas, mas pela qualidade de oportunidades criadas.
E, sobretudo, não pode aprofundar a exclusão de quem já vive à margem. Reparação ambiental sem inclusão social é apenas meia-solução.
A Fraport e a Aerotrópolis Fortaleza têm a chance de liderar um modelo inédito na região: um aeroporto que não separa, mas conecta. Que transforma comunidades vulneráveis em protagonistas do desenvolvimento. Que mostra que um equipamento global pode ser também um vizinho humano.
O verdadeiro desafio é fazer com que os bairros Aeroporto, Aerolândia e Vila União deixem de ser apenas o 'entorno' e passem a ser o coração do projeto. Se isso acontecer, Fortaleza terá não apenas um complexo aeroportuário moderno, terá um símbolo mundial de regeneração urbana e justiça territorial.
O debate que deve ocorrer na Câmara Municipal não é: "ZPA: sim ou não?", mas "como garantir que aeroporto e vizinhança prosperem juntos?". Essa resposta existe. Basta coragem para decolar e, desta vez, levar também as comunidades.