Se maltratar, ferir, subordinar, violar os direitos e excluir as mulheres, não é justo nem natural, por que isso acontece? Como se chega a essa situação? Por que ela continua?
As mulheres prosseguem sofrendo ataques em suas próprias casas; no interior de seus relacionamentos; nas ruas (importunação, abuso, assédio, estupro): nos seus ambientes de trabalho e nas mais diversas instituições.
Seguem padecendo com a desvalorização de seu trabalho, com as desigualdades raciais, sexuais e étnicas, com a objetificação de seus corpos, com o desrespeito aos seus direitos sexuais e reprodutivos, com a negação de sua autonomia, com o ultraje em seus cargos de representação política e em todas as formas de violência física, sexual, psicológica, moral, patrimonial, processual e simbólica, fazendo chegar ao aumento exponencial dos casos de estupros e de feminicídio.
Feminicídio, significa morte intencional e violenta de mulheres em decorrência de sua condição de gênero. Elas são mortas exatamente por serem mulheres. Algo que vai além da misoginia, uma vez sugerir significado político e expressar ideia de genocídio. Trata-se de um crime hediondo, reconhecido pela Lei 13.104 de 09 de março de 2015.
Por que os casos de feminicídios têm aumentado apesar das lutas e conquistas dos movimentos feministas? Porque, infelizmente, o patriarcado não ficou só no período colonial. O machismo e as hierarquias de gênero, continuam desafiando a todas as mulheres, não obstante as mais atingidas sejam exatamente aquelas mais vulneráveis: as mais pobres, as negras, as periféricas, as refugiadas, as indígenas, as profissionais do sexo e as mulheres trans.
Com efeito, a dominação masculina continua sendo um fenômeno fortemente "democrático" e um seríssimo problema estrutural/cultural, alicerçado na ideia absoluta da aceitação de uma diferença hierárquica entre homens e mulheres, sempre com a primazia dos homens, tudo associado à noção de força e poder, inclusive para matar!
A maioria dos casos ocorre quando as mulheres decidem questionar ou romper com o relacionamento abusivo. Os homens agressores não suportam, "nem autorizam" a "ousadia" das mulheres em decidir sobre seus próprios destinos.
O machismo estrutural, sempre tratado como natural e imutável, está presente nas famílias, nas igrejas, nas mídias, no mercado de trabalho, nos processos de trabalho, nos partidos políticos, nos movimentos sociais, na maior parte das instituições. E, também, no tradicionalismo das estruturas jurídicas e na discricionariedade do próprio sistema jurídico e policial. Enfim, no imaginário coletivo sob a forma de representações sociais.
Será possível mudar o mundo silenciando as mulheres? Certamente que não!