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Gustavo Glodes Blum: O ano tectônico
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Gustavo Glodes Blum: O ano tectônico

.O objetivo principal da política externa de Trump, porém, foi o de organizar um sistema de exclusão das grandes potências em suas respectivas zonas de influência
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Gustavo Glodes Blum

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Ao menos desde a metade da década de 2010, estamos nos acostumando a viver "momentos históricos". As votações do Brexit e da primeira eleição de Donald Trump à presidência nos EUA, em 2016, começaram a dar o tom de um sistema internacional mais tensionado e conflituoso.

Depois, a pandemia de Covid-19 e a sombra de uma longa recessão econômica somaram-se a conflitos por disputas territoriais a partir de 2020 que tiveram na invasão russa à Ucrânia a sua culminância. A devastação e o genocídio em Gaza, a partir de 2023, elevaram esta tendência ao máximo.

Comparado a este cenário, o ano de 2025 pode até parecer mais tranquilo que os anteriores. Vimos uma redução nos conflitos que haviam se espalhado anteriormente, e as guerras com impacto sistêmico como na Ucrânia e em Gaza encontraram um certo ponto de equilíbrio. Este ponto pode não ser algo benéfico, afinal de contas a destruição e devastação continuam acontecendo nestas duas áreas. Na política internacional, porém, elas se tornaram temas um pouco menos urgentes da pauta diplomática.

Sabe-se, porém, que um terremoto quando acontece é o resultado de diferentes processos de curto, médio e longo prazo. E o que foi possível observar ao longo de 2025 foi um amortecimento das tensões armadas em prol de uma disputa mais virulenta no âmbito diplomático e concorrencial.

Desde o seu primeiro mandato, Trump formalizou a política de "America First" como um realismo de princípios. Isso significa uma política externa marcada pelas demonstrações de poder econômico e militar voltadas não a inimigos sistêmicos, mas a atores que podem ser considerados casos exemplares.

Foi assim que apoiou a guerra de mísseis e drones entre Israel e Irã, em junho deste ano, dando cobertura ao regime de Netanyahu. Também foi o motivo pelo qual permitiu a Israel atacar representantes do Hamas no Catar, um aliado histórico dos EUA. Buscou fazer isso ao aplicar tarifas protecionistas ao Brasil, mas os impactos econômicos fizeram com que retrocedesse no apagar das luzes do ano.

O objetivo principal da política externa de Trump, porém, foi o de organizar um sistema de exclusão das grandes potências em suas respectivas zonas de influência. Ao encontrar-se com Putin no Alasca em agosto, Trump buscou costurar aos poucos uma acomodação entre as diferentes potências.

E, no fundo, trata-se disso a sua incessante tentativa de reconstruir um mediterrâneo americano no Caribe, o que envolve na visão ianque tanto a Colômbia como a Venezuela. Sua incursão tanto ajuda a manter uma base radical perdida após a morte de Charles Kirk quanto medir forças com a Rússia e a China num potencial conflito. A ver como se dá esta acomodação tectônica.

 

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