Ela não era para ser nada na vida, mas conseguiu. Essa é uma frase, não exatamente com essas palavras, mas que a própria entrevistada tem como uma de suas descrições. Nascida no fim da década de 1950, a agrônoma Mariangela Hungria relata que sentiu o peso do machismo.
Foi seguir carreira em uma área dominada por homens, engravidou por acidente, teve uma filha especial. Os requisitos, para quem lê no século XXI, encaixam-se com muitas realidades. Mas, à época, poderiam ser motivo para deixá-la de escanteio.
O que não aconteceu devido ao seu talento e dedicação, e também por duas principais ajudas em seu caminho. Por toda a vida, teve na avó Edina o incentivo a ser o que quisesse, e da qual ela guarda, além de boas memórias, dois livros de presente: “A vida dos microbiologistas” e outro sobre a história da cientista polonesa Madame Marie Curie "Foi uma física e química polonesa naturalizada francesa, que conduziu pesquisas pioneiras sobre radioatividade" .
Teve também a sua mentora científica, Johanna Döbereiner, que chefiava a Embrapa Biologia e foi uma guia na carreira.
Hoje, Mariangela leva como luta o crescimento do uso de fertilizantes biológicos e tem no extenso currículo o Prêmio Mundial da Alimentação de 2025 (World Food Prize - WFP), conhecido como o "Nobel" da Agricultura.
Sua pesquisa de mais de 40 anos é dedicada ao desenvolvimento de tecnologias em microbiologia do solo. A principal ênfase é na substituição total ou parcial de fertilizantes químicos por microrganismos.