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Hub aéreo de Fortaleza é exemplo de cooperação, diz presidente da Gol
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Hub aéreo de Fortaleza é exemplo de cooperação, diz presidente da Gol

Paulo Kakinoff, presidente da Gol Linhas Aéreas classifica como natural crescimento da oferta de voos no Ceará e defende maior abertura de mercado no setor para ampliar investimentos nas companhias e serviços aos clientes
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Mudar de forma radical o ambiente de trabalho e aceitar grandes desafios fazem parte do perfil do administrador de empresas e desde 2012 CEO da Gol Linhas Aéreas, Paulo Kakinoff. Antes, a vida profissional dele foi restrita ao setor automobilístico com passagens pelo Grupo Volkswagen e, por 18 anos, presidente da Audi Brasil.

A missão do trabalho ofertado a Kakinoff era diminuir custos e melhorar a eficiência da operação, após a Gol fechar 2011 com déficit. Na última quarta-feira, 15, a companhia completou

19 anos de fundação, e o executivo fez um balanço de sua atuação à frente da empresa. Revelou ainda "frustração" pelos problemas enfrentados com o Boeing 737 MAX, que fez com que a Gol deixasse sete aeronaves em solo após acidente com o mesmo modelo na Etiópia, em março de 2019.

Ao O POVO, ele ainda destaca que, para 2020, a Gol vai aumentar o investimento em voos regionais no Brasil, a exemplo do que aconteceu no Ceará. O executivo espera por reformas no setor aéreo, principalmente, a abertura do mercado ao capital estrangeiro. "Essa combinação de liberdade em que quem vence o que tiver mais competência ou dedicação, ou a combinação dos dois, é o que define a minha crença do ponto de vista executivo, de agente desse universo".

O POVO - Como foi para o senhor aceitar o desafio de assumir as funções de gestão no lugar do fundador da companhia, Constantino Junior?

Paulo Kakinoff - Essa é a maior responsabilidade que já tive na minha trajetória profissional por conta do modelo de sucesso que a Gol estabeleceu desde o início. Foi uma história que mudou a aviação brasileira. E cheguei para assumir a responsabilidade, como CEO, sucedendo o homem que fundou a companhia e a transformou na empresa que todos nós conhecemos, que já era a Gol de 2012. A forma como eu vi esse desafio era de extrema responsabilidade de conduzir a empresa a partir do patamar elevadíssimo que já estava e continuar essa trajetória de desenvolvimento.

OP - O senhor já enfrentou grandes crises desde que assumiu. O próprio ano de 2012 foi de muitas mudanças para a Gol após prejuízo em 2011, além de prejuízo bilionário em 2015. Como observa sua trajetória em meio às reviravoltas do mercado?

Kakinoff - Qualquer pessoa que viveu no Brasil entre 2011 e 2016, até 2017, na verdade, viveu desafios imensos no mundo dos negócios. A economia declinante, a população tendo seu poder aquisitivo sendo significativamente afetado, a dinâmica da economia mundial extremamente instável, por exemplo o câmbio, que é um aspecto que influencia diretamente os nossos resultados. Então, é um consenso de que foi a crise mais longeva da história moderna do País. Essas circunstâncias fizeram com que fosse um período extremamente desafiador.

OP - Nos últimos anos, temos passado por período reformista. E o seu perfil é de adepto a esse estilo. Como o senhor observa a possibilidade de abertura a 100% de participação do capital estrangeiro nas companhias brasileiras?

Kakinoff - A própria Gol só existe em função da liberdade de mercado, quando se estabeleceu no Brasil o regime de liberdade tarifária. Então, a concorrência comercial é o fator mais gerador de valor de forma sustentável e permanente que se conhece. É quase uma fidelidade ideológica aos conceitos e valores que defendemos desde o primeiro dia da operação. Me sinto confortável em defender esses princípios porque acredito neles. A abertura ao capital estrangeiro é mais uma barreira a ser superada para promovermos a ambiência que mais gera valor aos interessados neste processo. O cliente, a ser beneficiado pela concorrência, as empresas, pois fornece às companhias aéreas ao capital que ampliaria a capacidade de investimentos e assim por diante.

OP - O que mudaria para as empresas já instaladas?

Kakinoff - Essa combinação de liberdade em que quem vence o que tiver mais competência ou dedicação, ou a combinação dos dois, é o que define a minha crença do ponto de vista executivo, de agente desse universo. E o aspecto mais importante: desde que haja um equilíbrio verdadeiro de geração de valor para todos os interessados, não apenas para os acionistas. É um orgulho para nós termos ampliado em quase mil pessoas o nosso quadro de colaboradores, de pouco mais de 15 mil para 16 mil. É uma alegria conseguir isso levando a aviação a um preço muito acessível de tarifa. Em 2019, comercializamos 20 milhões de bilhetes de até 50 dólares. Essa é uma tarifa de empresas do mais baixo custo do mundo. Isso acontece no Brasil, combinado a uma aviação de alta qualidade, a segurança de uma frota nova e um alto nível de serviço.

OP - Uma maior abertura proporcionaria ainda mais benefícios ao consumidor?

Kakinoff - Muitas pessoas fazer a associação à abertura de mercado como potencial catalisador de tarifas mais baixas, quando na prática, se observarmos estruturalmente e comparamos os preços praticados no Brasil com outros locais do mundo, já estamos neste patamar. O que deve mudar são os processos estruturais. Infraestrutura. A agenda desenvolvida pelos agentes da aviação é muito positiva. Investimento em infraestrutura de aeroporto, a revisão da tecnologia disponível para definição das rotas de aeroaproximação que estará disponível no fim deste ano, após desenvolvimento do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea). Também as discussões sobre os custos estruturais, inclusive os tributários, notoriamente o ICMS sobre o combustível, que faz com que o Brasil tenha um dos valores mais altos do mercado mundial. E o querosene de aviação é o principal item isolado nessa planilha de custo. Essa abertura ao capital estrangeiro diminuiria o custo para as empresas que estão no Brasil, uma vez que companhia aérea é de capital intensivo. Para dar ideia, todos os anos temos investimento de R$ 1 bilhão somente na reindução dos nossos motores, para que tenhamos o mais alto estágio de qualidade para os nosso aviões.

OP - O hub aéreo do Aeroporto de Fortaleza é fruto de uma parceria da Gol com Air France-KLM e com adesão recente da Air Europa. Como foi montar esse hub e qual a relação com o Governo do Ceará?

Kakinoff - O hub é um ótimo exemplo do trabalho de geração de valor criado a partir de cooperação entre a iniciativa privada com o poder público. Ele foi literalmente desenhado e vem sendo refinado com diversos agentes. O protagonismo evidente do Governo do Estado e da Prefeitura de Fortaleza que desde o início não mediram esforços em energia e disposição para desenhar um hub que é histórico. Hoje, a maioria dos voos internacionais sai de São Paulo e Rio de Janeiro e passa sobre a cidade de Fortaleza quando estão deixando o País para a Europa. Com o hub, há um grande impacto na vida das pessoas por economizar várias horas saindo de suas cidades no Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil para a Europa, tendo de passar por Rio ou São Paulo para chegar ao seu destino. Toda a estrutura do Aeroporto de Fortaleza, com a Fraport, também todo o trade turístico, juntos com o foco claro de desenvolver a aviação e o resultado disso foi triplicar a quantidade de voos nacionais e internacionais em Fortaleza.

OP - A partir do hub, houve a ampliação de voos regionais ligando Fortaleza a destinos no interior do Ceará. Como aconteceu o processo de negociação?

Kakinoff - Foi um processo natural de desenvolvimento da malha que nós temos. Estamos sempre atuando com parceiros disponíveis que operam outros tipos de aeronaves, qual a demanda que existe no local e como juntos podemos compor uma malha que faça sentido. Foi assim que surgiu.

OP - Ainda sobre aviação, há esforço a partir da ideia do Consórcio Nordeste de buscar a Gol para ampliação as opções de voos regionais, sob liderança de Ceará e Bahia. Como está essa conversa?

Kakinoff - Essas discussões variam de estado para estado, porque cada um tem uma necessidade diferente. Alguns priorizam, por exemplo, os voos internacionais, e nos últimos cinco anos desenvolvemos um marco histórico na aviação. Pela primeira vez, cinco capitais do Nordeste têm uma ligação com a Argentina operadas pela Gol. Para cada estado, há uma fórmula específica, mas estamos sempre em tratativas com cada um deles para desenvolver soluções mais adequadas e de maneira individualizada.

OP - A Gol absorveu muito da demanda aberta pela saída da Avianca do mercado. Como o senhor observou esse movimento? O mercado não estava preparado para esse acontecimento?

Kakinoff - O mercado de aviação é muito competitivo no mundo inteiro. De maneira geral, no mercado mundial são três ou quatro companhias aéreas atuando por país de forma relevante. A exceção é o mercado norte-americano, que é oito vezes maior que o brasileiro. Então, é natural que uma empresa, quando deixa de operar, gere um nível maior de disputa entre os demais players. Foi o que ocorreu. No fim das contas, as três empresas aumentando a sua malha, preenchendo esse espaço, tivemos no último trimestre uma oferta maior do que quando as quatro empresas atuavam no ano anterior. Então, é um processo natural de competição que observamos.

OP - Quando foi anunciado que o Boeing 737 MAX iria entrar em operação pela Gol, houve grande comemoração. Mas, após os problemas com a aeronave e saída de operação, houve decepção da companhia com o modelo?

Kakinoff - Pelo que aconteceu, chamaria de frustração porque voamos com essa aeronave por 14 mil horas, e é uma aeronave excepcional. Estamos frustrados por não poder operar com ela porque conhecemos o nível de segurança do equipamento, confiamos na Boeing e essa confiança continua inabalada, principalmente pela postura da empresas em admitir que houve falha no processo de desenvolvimento, que, sendo compatível com os valores da Boeing, não mediram esforços para fazer do 737 MAX o avião mais seguro já produzido. É uma frustração, no sentido de querermos ter o avião logo em operação, no nível de contribuição que ele traz para o mercado da aviação.

OP - O acordo entre Boeing e Embraer virou alvo de discussões políticas em cenário de eleições presidenciais. Como o senhor avalia o acordo?

Kakinoff - Vejo de maneira positiva quando dois fabricantes que tem um portfólio tão complementar e que, ao mesmo tempo que possuem um nível de tecnologia empregado tão elevado, se juntam para obtenção de sinergias. Observo de maneira positiva, acredito que o Brasil só tem a ganhar, as empresas e clientes da mesma forma.

OP - Para desenvolver mais a aviação brasileira, são necessárias novas concessões de aeroportos?

Kakinoff - Para a evolução da aviação, é necessário que todos nós (que compomos o setor) façamos melhor amanhã do que fizemos hoje. É um processo natural, que vale para as companhias aéreas, para os agentes públicos, reguladores. É assim que se produz evolução. Não é um indivíduo isoladamente fazendo melhor do que se fazia antes. Não adianta ter um aeroporto excelente, construído com a mais alta tecnologia e eficiência, se não tem companhia aérea para operar, empresas que estão prosperando de maneira suficientemente sustentável para ampliar sua malha operacional. Acredito que não podemos elencar apenas um agente para o crescimento, mas todos de maneira conjunta.

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Perfil

Paulo Kakinoff nasceu na cidade de Santo André, na grande São Paulo, em 1975. Formado em administração pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, começou a carreira cedo. Ao se formar técnico, foi contratado, os 18 anos, como estagiário pela Volkswagen. Aos 29, já era gerente de marketing e vendas, sendo promovido a diretor das áreas um ano depois. Migrou para a Alemanha, onde foi diretor-executivo para a América Latina. De volta ao Brasil, em 2009, assumiu a direção da Audi, cargo que ocupou até meados de 2012.

Crise e recuperação

Em 2015, a Gol amargou um prejuízo de R$ 4,3 bilhões. A recuperação veio a partir de um plano emergencial de longo prazo, que inclui a fidelização dos clientes. Mais espaço entre as poltronas e Wi-Fi dentro das aeronaves foram alguns dos ajustes feitos. Hoje, a Gol ainda é companhia mais pontual do mercado brasileiro.

Boeing

A Gol suspendeu voos de 11 aeronaves Boeing 737 NG para substituição de um componente após inspeções recomendadas pela agência de aviação dos Estados Unidos, FAA, que em outubro de 2019 detectaram fissuras na fuselagem. A medida atingiu praticamente 10% da operação. O 737 NG é a versão anterior do 737 MAX. Apesar dos problemas, Paulo Kakinoff reiterou a confiança na Boeing.

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