O diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, disse ontem que a situação dele ficou "insustentável" no cargo depois de atritos com o presidente Jair Bolsonaro sobre os dados que mostram alta do desmatamento da Amazônia. O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) confirmou, em nota, o desligamento.
"Diante da maneira como eu me manifestei com relação ao presidente, criou um constrangimento, ficou insustentável e eu serei exonerado", afirmou Galvão a jornalistas que estavam em frente ao Ministério após a reunião dele com o titular da pasta, Marcos Pontes.
O pesquisador estava no Inpe desde 1970 e cumpria mandato à frente do órgão até 2020. Ele deixa a direção do instituto após duas semanas de intenso bombardeio por parte do governo às informações do órgão que mostram que desde maio os alertas de desmatamento da Amazônia dispararam, atingindo em julho o número mais alto desde 2015 para um único mês. O desmatamento observado pelos alertas entre agosto do ano passado até 31 de julho é 40% maior do que o período anterior.
A polêmica começou com declarações de Bolsonaro no dia 19 passado, quando, em encontro com jornalistas estrangeiros, acusou os dados do Inpe dea ONG". O pesquisador reagiu afirmando que a atitude do presidente havia sido "pusilânime e covarde".
Os dias seguintes foram marcados por várias outras manifestações de Bolsonaro questionando as informações e dizendo que elas prejudicam a imagem do País. O presidente também afirmou que queria receber as informações antes de elas serem tornadas públicas.
Pontes endossou o chefe e afirmou que compartilhava o estranhamento sobre os dados. Ele convocou Galvão a dar explicações, mas a reunião entre os dois só aconteceu ontem.
Em nota após a entrevista coletiva, o Inpe disse que "reafirma sua confiança na qualidade dos dados produzidos pelo Deter". Informou ainda que "os alertas são produzidos seguindo metodologia amplamente divulgada e consistentemente aplicada desde 2004" e que "é amplamente sabido que ela contribuiu para a redução do desmatamento na região amazônica, quando utilizada em conjunto com ações de fiscalização".
Após o encontro com Pontes, Galvão disse que concordou com a decisão pela sua saída e que sua maior preocupação no encontro era que a crise não respingasse no Inpe. "Isso não vai acontecer. Discutimos em detalhes como vai ser a continuação da administração do Inpe." Segundo o pesquisador, ele não precisou defender os dados o Inpe diante do ministro. "Ele concorda com os dados do Inpe, sabe como funciona." (Agência Estado)