Partido que ascendeu junto com a vitória de Jair Bolsonaro nas urnas, o PSL do Ceará se reúne amanhã de olho em atrair novas filiações e discutir planos de atuação para a eleição de 2020. Voltado sobretudo para a sucessão de Roberto Cláudio (PDT) em Fortaleza, o evento, no entanto, não contará com a presença de duas das principais lideranças da sigla no Estado.
Mesmo dois únicos representantes do PSL na Assembleia Legislativa do Ceará e ambos possíveis pré-candidatos na disputa, Delegado Cavalcante e André Fernandes prometem boicote ao ato. "Não tem aval nem do Bolsonaro, nem meu, nem do André. É um movimento sem nenhum critério, apenas para tumultuar o partido", disse Cavalcante ao O POVO.
O "boicote" dos deputados é mais um episódio no racha interno entre os dois e o presidente do PSL no Estado, o deputado federal Heitor Freire. No fim de junho, Cavalcante e Fernandes acionaram a direção nacional do partido contra o deputado, o acusando de "agir ao arrepio da lei" para tomar o controle da legenda, "burlando" o estatuto da sigla no Ceará.
Apesar do fogo amigo, Freire — que se diz "a voz do presidente Jair Bolsonaro no Ceará" — promete defender no evento uma "faxina" na política do Estado, "onde a esquerda há anos realiza um grande desserviço". "Somos os únicos no Ceará que, assumidamente, declaramos total apoio e seguimos as orientações do Governo Federal", diz, em nota sobre o ato.
Questionado pelo O POVO sobre as críticas de Cavalcante, a assessoria de Freire destaca que a campanha de filiações é uma iniciativa do PSL Nacional. "E o PSL-CE tem orgulho de fazer sua parte nessa demonstração de organização, união e respeito à hierarquia partidária em busca de uma legenda cada vez mais forte", disse, evitando responder os ataques mais diretos. "Nosso foco é o trabalho".
O evento contará também com participação do presidente do PSL de Fortaleza, Lucas Fiuza, que assumiu a função após Freire dissolver comissão provisória chefiada por André Fernandes. "É a oportunidade para fazer parte da história, participando ativamente da renovação e do necessário resgate que Fortaleza e o Ceará merecem".
Delegado Cavalcante contesta: "Estamos esperando o resultado do pedido de intervenção que fizemos, porque o que ele (Freire) está fazendo é dividir o partido aqui no Estado, ele quer acabar com o PSL do Ceará", diz. "As composições que ele está fazendo não têm critério nenhum, tem gente de esquerda, até com falcatruas, coisas que a gente não concorda de jeito nenhum", continua.
Partido nanico antes da eleição de Jair Bolsonaro, o PSL tem crescido em ritmo cada vez mais veloz desde o início do mandato do presidente. Na atual campanha de filiação de novos membros, o presidente nacional da legenda, deputado federal Luciano Bivar (PE), afirma que a meta é chegar a um milhão de "pesselistas".
No Ceará, o PSL tem hoje pouco mais de 12,7 mil filiados em situação regular, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Desse total, cerca de 2,2 mil vieram para o partido após o partido confirmar candidatura de Bolsonaro à Presidência da República. O ritmo de filiações ficou ainda maior após o 1º turno da eleição passada, quando o então candidato ficou na liderança.