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Analistas criticam discurso hostil de Bolsonaro a Alberto Fernández
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Analistas criticam discurso hostil de Bolsonaro a Alberto Fernández

| Argentina | Em entrevista a jornalistas antes de deixar Abu Dhabi, presidente brasileiro disse que os argentinos "escolheram mal" seu novo chefe de Estado
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 PRESIDENTE eleito, Alberto Fernandez (à dir), discursa ao lado de sua vice Cristina Kirchner (à esq.) após a vitória (Foto: ALEJANDRO PAGNI / AFP)
Foto: ALEJANDRO PAGNI / AFP  PRESIDENTE eleito, Alberto Fernandez (à dir), discursa ao lado de sua vice Cristina Kirchner (à esq.) após a vitória

A população da Argentina elegeu no último domingo, 27, Alberto Fernández e Cristina Kirchner para comandar o país pelos próximos quatro anos. O resultado foi comemorado por opositores ao governo de Maurício Macri, mas põe em jogo a relação com o Brasil, visto que o presidente Jair Bolsonaro não tardou a reprovar a vitória.

Em entrevista ontem a jornalistas antes de deixar Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, rumo ao Catar, Bolsonaro disse que os argentinos "escolheram mal" seu novo chefe de Estado.

"Lamento. Não tenho bola de cristal, mas acho que a Argentina escolheu mal", disse. Além disso, Bolsonaro demonstrou incômodo com uma imagem publicada por Fernández em apoio ao ex-presidente Lula, preso desde o ano passado no âmbito da Lava Jato.

 "É uma afronta à democracia brasileira. Ao sistema judiciário brasileiro. Uma pessoa condenada em duas instâncias. Outras condenações a caminho. Ele está afrontando o Brasil de graça no meu entender", complementou.

Especialista em relações internacionais, Bosco Monte, afirma que o resultado impactará, inicialmente, no enfrentamento das crises locais, atentando também para as mudanças de governabilidade.

"A Argentina muda de perfil, saindo de um programa estético mais liberal e indo pra um lado socialista, onde o Estado tem mais ação direta na vida das pessoas. Nos próximos dias precisamos ter uma noção clara do que o presidente eleito vai colocar como agenda do seu governo. A conversa com autoridades do sistema financeiro aponta para sua vontade de acertar logo no começo", diz.

Ele aponta que a relação do Brasil com os argentinos, hostil após posicionamento de Bolsonaro, precisa levar em consideração a atual boa cooperação entre os países.

"A Argentina não pode ser descartada. O governo brasileiro precisa se ajustar e se adequar. É preciso diálogo, porque há interesses em jogo, como o Mercosul e a manutenção de uma balança comercial favorável entre dois países", reforça.

FERNÁNDEZ, que Cristina Kirchner como vice, é o favorito para as eleições de outubro
FERNÁNDEZ, que Cristina Kirchner como vice, é o favorito para as eleições de outubro

É o que também afirma o analista de Fiscos Políticos para os Países do Cone Sul, Gabriel Brasil. "A gente está vendo uma retórica bem hostil do Bolsonaro. Inicialmente, Fernández também faria o mesmo, mas desistiu. A Argentina continua sendo nossa principal parceira econômica e vice-versa. Temos um cenário para aguardar nos próximos meses", afirma.

Para ele, após uma "vitória já esperada" de Fernández, o cenário futuro pode indicar um maior isolamento de Bolsonaro. "Víamos uma baixa popularidade de Macri, pois ele sofreu, desde 2018, problemas de inflação, aumento da dívida pública, então, o cenário ficou complicado. Houve uma estratégia bastante inteligente da vice Cristina de não contaminar a campanha de Fernández. Isso foi um golpe duro para Bolsonaro, que já estava progressivamente se isolando e agora ele vai se isolar mais" reforça.

A vitória de Fernández teve impactos no mercado local, com títulos do governo despencando e o peso em forte baixa ante o dólar, a ponto de o Banco Central argentino limitar limitar os saques por pessoa. No Brasil, a eleição ainda não teve reflexo tão significativo. Segundo analistas, é um sinal de que os investidores preferem aguardar mais informações sobre as decisões que o novo presidente do país vizinho irá tomar.

"Sem dúvidas o principal desafio é o econômico. Fernández já indica querer conversar com grupos empresariais e sindicatos para tentar baixar a inflação de mais de 50% e aumentar do poder de compra dos argentinos. Porém, a Argentina também depende bastante da política externa, precisando atrair o comércio internacional" reforça.

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