Em sua 69ª fase, a Lava Jato investiga contratos da Oi/Telemar e da Vivo Telefônica com empresas controladas por Fábio Luís Lula da Silva, filho mais velho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), firmas de Fábio Luís receberam R$ 132 milhões entre 2004 e 2018 sem comprovar que prestaram serviços.
Em troca dos repasses, as operadoras de telefonia teriam sido beneficiadas pelo governo do petista. Ainda de acordo com os investigadores, parte do dinheiro teria sido utilizada por sócios de Fábio Luís para comprar o sítio de Atibaia, que rendeu uma condenação a Lula.
A PF pediu a prisão temporária do filho de Lula e dos empresários Kalil Bittar e Jonas Suassuna, sócios do grupo Gamecorp/Gol, mas a juíza Gabriela Hardt, da 13ª Vara Federal em Curitiba, responsável por autorizar a operação Mapa da Mina, negou a solicitação. Por ordem da juíza, agentes cumpriram 47 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Distrito Federal.
De acordo com o Ministério Público, há indícios de que parte dos R$ 132 milhões que a Gamecorp/Gol recebeu da Oi foi usada para comprar o sítio de Atibaia. A propriedade está no nome do empresário Fernando Bittar, sócio de Fábio Luís na Gamecorp, e é o pivô da segunda condenação de Lula na segunda instância da Lava Jato. Em novembro, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) sentenciou o ex-presidente a 17 anos e 1 mês de reclusão por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele recorre em liberdade.
A Lava Jato afirmou que, paralelamente aos repasses à Gamecorp/Gol, a Oi/Telemar foi "beneficiada" pelo Governo Federal por meio de decisões no setor de telecomunicações. Citou como exemplo decreto assinado pelo então presidente Lula em 2008 que permitiu a aquisição da Brasil Telecom pela Oi/Telemar.
O procurador Roberson Pozzobon, da força-tarefa da Lava Jato, disse que "evidências indicam que o maior ativo que o grupo Oi/Telemar buscava na contratação da Gamecorp era o fato de que entre seus sócios estava o filho do então presidente da República". "No mundo dos negócios, não há lanche grátis."
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a ação da Polícia Federal. "O espetáculo produzido hoje (terça-feira) pela força-tarefa da Lava Jato é mais uma demonstração da pirotecnia de procuradores viciados em holofotes que, sem responsabilidade, recorrem a malabarismos no esforço de me atingir, perseguindo, ilegalmente, meus filhos e minha família", disse o petista em uma rede social.
Segundo ele, investigações sobre o caso já foram arquivadas. "Os órgãos do Estado competentes para promover a análise e a investigação do assunto já atuaram e concluíram de longa data que Lula e seus familiares não cometeram qualquer ato ilícito", escreveu ele no Twitter. Lula falou novamente em "perseguição ilegal".
O grupo Gamecorp/Gol e o empresário Fábio Luís Lula da Silva não responderam aos contatos da reportagem. Em nota, a Oi informou que "sempre atuou de forma transparente" e "tem prestado todos os esclarecimentos que vêm sendo solicitados, assegurando total e plena colaboração com as autoridades competentes".
O executivo da Oi Rodrigo Abreu disse, durante evento no Rio, que a gestão atual da empresa "não tem nada a ver com o passado". No mesmo evento, o presidente da Oi, Eurico Teles, confirmou que vai deixar a companhia em janeiro. "É só pepino", afirmou Teles.
A Telefonica/Vivo também declarou que está fornecendo todas as informações solicitadas. "A Telefônica reitera seu compromisso com elevados padrões éticos de conduta." As defesas dos outros citados não foram localizadas. (Agência Estado)
Listen to "Jogo Político" on Spreaker.
Gamecorp
As atividades da Gamecorp já foram alvo de investigações. Uma delas apurava possível tráfico de influência de Fábio Luís — ele teria recebido, em 2004, R$ 5 milhões da operadora de telefonia Telemar, atual Oi. O caso foi arquivado em 2012 por falta de provas.