No dia em que o Brasil bateu novo recorde de mortes por Covid-19, com 751 registros de óbitos em 24 horas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) convidou apoiadores para um churrasco no Palácio da Alvorada.
"Está todo mundo convidado aqui, 800 pessoas no churrasco. Tem umas 900 pessoas para o churrasco amanhã (hoje)", declarou, referindo-se ao grupo que o acompanhava na saída do palácio. "Tem 1.300 convidados. Quem estiver amanhã aqui a gente coloca para dentro. Vai dar mais ou menos 3.000 pessoas no churrasco amanhã."
A estratégia de Bolsonaro é parte de um esforço de mobilização de aliados, entre parlamentares e políticos sem mandato, de aumentar a pressão sobre o Supremo Tribunal Federal (STF) num momento em que o cerco jurídico se fecha na esteira das denúncias do ex-ministro Sergio Moro.
Ontem, o presidente entregou a íntegra do vídeo de reunião mencionada pelo ex-juiz em depoimento à Polícia Federal, no último sábado, 2.
Segundo Moro, nesse encontro de 22 de abril, o presidente teria deixado clara a sua intenção de interferir na PF a fim de obter informações sigilosas de investigações em andamento na corporação.
A saída de Moro provocou uma queda de braço cujo palco é o STF, onde foi aberta apuração para determinar a veracidade das acusações do ex-ministro. Na próxima terça, 12, serão ouvidos em oitivas três ministros militares: Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral) e Braga Netto (Casa Civil). Eles foram citados por Moro como testemunhas da ingerência na PF.
Os ministros irão depor ao mesmo tempo para evitar que combinem versões. Além deles, também serão interrogados delegados, entre eles o ex-diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, e a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), que trocou mensagens com o ex-magistrado da Operação Lava Jato.
Pressionado desde a demissão de Moro, Bolsonaro tem se valido dos setores mais ideológicos e de parlamentares do "centrão" para constituir uma base mínima no Congresso e também para dividir o ônus da crise em decorrência da pandemia do novo coronavírus.
Na quinta-feira passada, o chefe do Executivo foi andando com empresários até o prédio do STF, onde foi recebido por Dias Toffoli, presidente da Corte. O gesto foi interpretado como uma tentativa de encurralar o Judiciário após reveses nesse âmbito, principalmente o impedimento da nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da PF.
Para grupos cearenses que apoiam Bolsonaro, no entanto, nem a ausência de Moro nem os processos que já tramitam no Supremo fragilizaram o suporte que prestam ao presidente da República.
À frente do Endireita Fortaleza, Adriano Vieira afirma que, "ao contrário do que muitos estão falando, a direita não está se dividindo, mas se definindo".
Acesse a cobertura completa do Coronavírus >
Para ele, a crise atual tem ajudado a depurar os verdadeiros bolsonaristas. "Os liberais, que a nosso ver nunca foram representantes da direita, estão manifestando a sua verdadeira identidade: tecnocrata, traidora dos direitos individuais constitucionais e profundamente ligados ao velho tucanato", critica.
Vieira acrescenta que o foco da entidade agora está voltado para "as arbitrariedades inconstitucionais cometidas pelo ministro Alexandre de Moraes e pelo Camilo Santana", governador do Ceará.
Coordenadora do Consciência Patriótica, Amanda Martins garante que, em meio às disputas do campo conservador, "a base de apoio ao Bolsonaro não rachou".
"Permanecemos sempre ao lado do presidente. Ele é o único neste País que entende o principal problema e o combate: o socialismo/comunismo", acredita.