Ao lado do deputado estadual André Fernandes (PSL), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) comemorou em vídeo publicado nas redes sociais "uma novela que chega ao fim." O termo "novela se aplica tanto em razão do período de duração das obras de transposição do rio São Francisco (pouco mais de 13 anos), como pelas disputas políticas em torno da paternidade dos trabalhos contra a seca que historicamente assola o semiárido do Nordeste.
Assim como o atual mandatário fez ontem com um trecho do eixo norte em Penaforte, local onde comemorou a chegada das águas em chão cearense rodeado por apoiadores e aliados políticos, outros presidentes também fizeram anos antes.
Lula (PT), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) inauguraram trechos da Transposição do Rio São Francisco, o maior empreendimento hídrico da história do País, no decorrer das respectivas gestões.
A ideia de conectar o rio de 2,8 mil quilômetros a açudes e bacias hidrográficas menores do Nordeste data dos tempos de Dom Pedro II (1825 - 1891), que não o tirou do papel. O objetivo central das obras é o de enfrentar a seca na Região pelo abastecimento de municípios situados no Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.
O projeto de integração do rio São Francisco foi posto em prática em 2007, na segunda gestão de Lula. A obra, inicialmente orçada em R$ 4,5 bilhões e que pulou para R$ 12 bilhões, se divide em dois eixos, norte e leste.
O eixo norte, inaugurado por Bolsonaro, vai de Cabrobó (PE) a Cajazeiras (PB), o que contempla os cearenses. A estrutura já estava 97,35% concluída. Segundo informações do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), 1,3% deste percentual corresponde ao que foi feito pela gestão Bolsonaro em 2019.
Dilma Rousseff deixou o Governo Federal em agosto de 2016. O ano fechou com 91,91% de conclusão do eixo norte e 92,64% do eixo leste. Temer deixou a Presidência em janeiro de 2019 com mais de 96% de andamento dos trabalhos no eixo norte e mais de 97% na parte leste.
O leste da obra, inclusive, foi inaugurado em 2017 por Temer. Como a paternidade da obra é disputada no terreno da política, tanto o emedebista como Lula e Dilma promoveram inaugurações. Para se diferir do evento oficial, os petistas que batizaram o evento na época de "inauguração popular".
"É uma disputa pela história. Sem dúvida, a história serve como um meio de engrandecer o projeto. É o peso histórico também dá importância a ele", comenta o historiador Gabriel Pereira, professor do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e estudioso do rio São Francisco no Império. (colaborou Catalina Leite/Especial para O POVO)