Investigação da Polícia Civil que corre em segredo de Justiça aponta o prefeito de Granjeiro, Ticiano da Fonseca Félix, e o seu pai, Vicente Félix de Sousa, como "prováveis mandantes" do assassinato do então gestor do município, João Gregório Neto, em 24 de dezembro de 2019.
Ticiano e Vicente foram presos ontem, dentro de operação que cumpriu outros dez mandados do mesmo tipo (ao todo, três domiciliares e nove preventivas) e 15 de busca e apreensão por endereços em Fortaleza, Crato, Juazeiro do Norte, Granjeiro e Salgueiro (PE). Além deles, mais sete pessoas foram alvos da ação.
Sem Ticiano, foi empossado como novo prefeito o presidente da Câmara de Vereadores de Granjeiro, Luiz Márcio Pereira (PMN), que assumiu o comando da administração na tarde dessa quarta-feira, em cerimônia acompanhada pela Polícia Militar. No mesmo ato, Luiz Almir Soares (PSDB) se tornou o presidente do Legislativo local, que tem oito representantes.
Segundo uma fonte que acompanhou as investigações e participou do cumprimento dos mandados, "a motivação do crime, em tese, é para que eles (Ticiano e o pai) pudessem chegar ao poder" depois de desavenças com a vítima, dois anos atrás.
Para ela, o inquérito conduzido pelas autoridades policiais indica que os dois "provavelmente foram, sim, os mandantes" da execução de "João do Povo", como era conhecido Gregório entre os eleitores da cidade.
Ainda de acordo com essa fonte, o policial militar Mayron Myrray Bezerra Aranha, de 29 anos, um dos investigados pela operação, "não foi o executor material do assassinato, mas quem articulou" - o atirador continuava foragido até o fechamento desta página.
A investigação relata que o PM "foi a pessoa que montou a situação" e "coordenou tudo através de telefone", visitando o local para "para dar um apoio já depois do crime, provavelmente na fuga".
Com passagens por "tentativa de homicídio, crimes de trânsito, porte ilegal de arma de fogo e disparo de arma de fogo", conforme informações da Polícia, Aranha já estava afastado "preventivamente das funções e se encontrava preso quando as equipes policiais foram cumprir o mandado".
Completam a lista de presos preventivamente Anderson Maurício Rodrigues, 23, com antecedente criminal por receptação; Wendel Alves de Freitas Mendes, 26, com passagens por furto, estelionato, receptação, associação criminosa e outros crimes; e Willyano Ferreira da Silva, 30, natural de Salgueiro (PE).
Cumprem prisão domiciliar determinada no âmbito da operação Joaquim Maximiliano Borges, 42, então secretário de Administração de Granjeiro; Francisco Rômulo Brasil Leal dos Santos, 59, e Geraldo Pinheiro de Freitas, 67, que seria o "financiador do esquema criminoso" que resultou na morte de João do Povo.
A ação da Polícia foi realizada com 60 agentes do Departamento de Polícia Judiciária do Interior Sul (DPJI Sul) e da Delegacia Regional de Crato, subsidiada pela Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core).
Dois dos mandados de busca e apreensão foram cumpridos em imóveis do irmão de Vicente Félix. A polícia suspeita que "a loja dele tenha sido a base do crime", informa um policial.
Prefeito empossado de Granjeiro, Luiz Márcio se reuniu ontem à noite com profissionais de saúde do município para normalizar o atendimento e o combate à Covid-19 no hospital da cidade. Nessa quarta-feira, disse um parlamentar ouvido por O POVO, nenhum médico havia ido trabalhar.
Alçado à presidência da Câmara, o vereador Luiz Almir Soares espera agora que Granjeiro tenha paz. "O pessoal não acreditava que haveria justiça para esse crime horrível. Graças a Deus, hoje deu resultado. O povo agora precisa de paz. Esse ambiente de perseguição não presta", declarou à reportagem.
O POVO tentou contato com o prefeito empossado de Granjeiro, Luiz Márcio Pereira, mas não houve retorno às ligações e às mensagens de tarde e à noite.
COVID-19
Menor município do Ceará, Granjeiro registrou até ontem nove casos de Covid-19 e nenhuma morte em decorrência do novo coronavírus