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"Vontade de encher sua boca de porrada", diz Bolsonaro a jornalista
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"Vontade de encher sua boca de porrada", diz Bolsonaro a jornalista

Repórter questionou presidente sobre repasses do ex-assessor de Flávio Bolsonaro à primeira-dama. Parlamentares e partidos reagiram
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Em falas anteriores, Bolsonaro argumentou que o tabelamento de preços já foi feito no passado e não deu certo (Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil)
Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil Em falas anteriores, Bolsonaro argumentou que o tabelamento de preços já foi feito no passado e não deu certo

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse ontem ter "vontade de encher de porrada" um jornalista do jornal O Globo em frente à Catedral Metropolitana de Brasília.

Durante uma visita a feirinha de artesanato no local, ao descer do carro, Bolsonaro foi questionado pelo jornalista sobre repasses de R$ 89 mil feitos por Fabrício Queiroz, ex-assessor de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), feitos à primeira-dama Michelle Bolsonaro. "Vontade de encher tua boca de porrada", respondeu Bolsonaro ao repórter.

Jornalistas que acompanhavam a visita questionaram se a declaração era uma ameaça, mas o chefe do Executivo não respondeu mais e seguiu com a visita. Depois, voltou ao Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. O Palácio do Planalto foi questionado pela reportagem sobre o teor da frase, mas não se manifestou até o fechamento desta página.

Movimentações do extrato bancário de Márcia de Oliveira Aguiar, anexados à investigação sobre suposto esquema de "rachadinha" no gabinete do senador Flávio Bolsonaro enquanto era deputado estadual no Rio, registram que seis cheques da mulher do ex-assessor Fabrício Queiroz foram compensados em favor da mulher do presidente Jair Bolsonaro em 2011, totalizando R$ 17 mil. Somados aos depósitos feitos por Fabrício tempos depois, o total chega a R$ 89 mil.

Em nota, O Globo repudiou a agressão de Bolsonaro ao repórter que estava no exercício da função e fez críticas duras à atitude do presidente. "Tal intimidação mostra que Jair Bolsonaro desconsidera o dever de qualquer servidor público, não importa o cargo, de prestar contas à população", diz a nota.

"Durante os governos de todos os presidentes, o Globo não se furtou a fazer as perguntas necessárias para cumprir o papel maior da imprensa, que é informar os cidadãos. E continuará a fazer as perguntas que precisarem ser feitas, neste e em todos os governos", complementa o comunicado do veículo.

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Parlamentares e partidos políticos reagiram à ameaça feita ontem por Bolsonaro ao jornalista. O PSDB disse em nota que a fala do presidente "desrespeita a liberdade de imprensa" e "não condiz com o cargo".

"O presidente volta a mostrar apreço por posturas agressivas e antidemocráticas", publicou o perfil oficial do partido no Twitter. O MDB, por sua vez, pediu respeito aos jornalistas. "O presidente da República precisa se retratar", diz a legenda.

A deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP) chamou a fala de "inaceitável". Ela avalia que o aumento da popularidade do presidente o encoraja a voltar a ativar sua base militante.

"Bolsonaro bem-comportado é uma ilusão. Durou pouco", declarou à reportagem. Sâmia, hoje líder do Psol na Câmara, diz que falas como a desse domingo "mostram a que o presidente veio".

Para a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), parlamentar com um histórico de embates com o presidente, o ataque ao jornalista é "gravíssimo". "Na democracia, tal atitude não pode ser tolerada. Chega deste tensionamento diário. Fora Bolsonaro", publicou Maria do Rosário no Twitter. O também petista Alencar Braga (SP) chamou a atitude de "ira de mafioso".

Entre os senadores, Humberto Costa (PT-PE) classificou o episódio como "absurdo". Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse que Bolsonaro tem medo. "O medo de responder é tão grande que Bolsonaro quer silenciar quem o fiscaliza de toda forma... Ele vai dizer o mesmo à justiça?", questionou o parlamentar, no Twitter. 

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