Um "corre-mundos inverterado" definia Rachel de Queiroz sobre o amigo e colega de jornalismo, Osmundo Pontes, figura que fez história com trabalhos na imprensa e no direito trabalhista. Além de escrever notícias, entrevistas e crônicas, Pontes foi desembargador do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará, onde assumiu a presidência por três mandatos bienais, consecutivamente de 1976 a 1980 e novamente de 1986 a 1988. Ontem, o Tribunal promoveu homenagem ao centenário de nascimento, com exposição e apresentação de livro biográfico sobre a trajetória do já falecido magistrado em todas as suas vertentes.
Francisco Osmundo Pontes nasceu em 4 de novembro de 1920, em Lábrea, município amazonense desenvolvido no entorno do rio Purus e um dos antigos polos de extração de látex em seringais. A forma de renda levou os pais dele ao Norte do País, mas quando Osmundo tinha cinco anos, a família fez o caminho de volta para a terra de origem, onde estudou no Liceu do Ceará e se formou em Direito pela Universidade Federal do Ceará.
Na época, era comum que estudantes de Direito fossem também os primeiros jornalistas. Assim, em 1969, junto a Waldery Uchôa, Osmundo fundava a Revista Contemporânea, periódico que circulou por 30 anos. Também dirigiu o extinto jornal Diário da Tarde, e contribuiu com outros veículos de imprensa, dentre eles, o próprio O POVO e o O Dia, de Teresina.
Dentre os feitos enquanto jornalista, há a entrevista realizada com Clóvis Beviláqua, em 1943. O jurista cearense foi autor do primeiro Código Civil Brasileiro, de 1900. Osmundo foi ao Rio de Janeiro conversar com Beviláqua precisamente um ano antes do falecimento dele.
Apaixonado por viagens, deu a volta ao mundo ao lado da esposa, Cybele Valente Pontes. Numa época em que não havia Internet e a distância entre países era imageticamente muito maior, ele narrava as vivências nos periódicos jornalísticos. Disso, sairia o livro "Portugal e Outras Pátrias" (1986), assim como "China: Homem e Paisagem" (1988). Além desses, também foi autor de "Notícia Histórica de Massapê" (1945), e "Portugal dos Meus Amores" (1989). E ainda está na lista a obra Alma do Cotidiano, escrita por ele mas lançada em 1997, dois anos após sua morte.
O desembargador Plauto Porto, atual presidente do TRT destacou importantes ações do desembargador Osmundo Pontes na apresentação da justiça do trabalho para a população.
Osmundo faleceu em 11 de junho de 1995, aos 75 anos. Familiares e a viúva do desembargador participaram do evento ontem. Citando uma frase do escritor cearense Raimundo Girão, Cybele comemora a homenagem ao falecido marido como importante figura no Estado.
"Raimundo Girão, que era nosso amigo, dizia 'Não morre o homem que em vida, pôde construir', e acho que foi isso que aconteceu com ele (Osmundo)".
Durante a cerimônia, também foi apresentado à família o livro biográfico, e que dá nome à exposição, "Osmundo Pontes - Entre a toga e a crônica" do jornalista Eliézer Rodrigues. A obra deve ser lançada oficialmente em 2021.