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A Câmara que espera Sarto, prefeito eleito de Fortaleza
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A Câmara que espera Sarto, prefeito eleito de Fortaleza

Com ampla base de aliados e experiência legislativa nas câmaras municipal e estadual, o novo prefeito já entra com ambiente favorável à gestão que se inicia em 2021
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Cores representam a distribuição partidária na Câmara Municipal de Fortaleza (Foto: O POVO)
Foto: O POVO Cores representam a distribuição partidária na Câmara Municipal de Fortaleza

Em 2021, José Sarto Nogueira iniciará o mandato com uma base de 25 vereadores, mais de 50% da Câmara composta por 43 vagas. Esse indicativo vai de acordo com a coligação formada para o apoio a chapa do prefeito eleito, composta por dez siglas: PDT, PP, PTB, PL, PSB, DEM, PSD, Cidadania, Rede e PSDB. Desses, dez nomes já são do PDT, partido dele, incluindo o atual presidente da Câmara, o administrador Antônio Henrique da Silva, quarto mais votado para o legislativo de Fortaleza.

Ele ainda poderá contar com partidos entendidos como “centro-adesistas”, que podem ter aderido a campanha de adversários mas devem comungar com a nova gestão a depender da pauta. Alguns deles são o PL, PP e Republicanos. O último já compôs, inclusive, base para Roberto Cláudio (PDT). A projeção é feita pela cientista política Monalisa Torres, Professora da Uece e pesquisadora do Laboratório de Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC).

“O Executivo não consegue fazer nada se não tiver uma boa relação com o legislativo”, lembra a pesquisadora. Por isso, reafirma, é muito vantajoso para o futuro prefeito sair com uma base de aliados tão significativa. Principalmente, em um ano que reserva tantas incertezas para a gestão, como o combate aos efeitos da pandemia, a retomada da economia na Capital, e formas de auxiliar a população mais vulnerável aos efeitos da Covid-19.

O peso da base eleitoral conservadora

Sargento Reginauro (Pros) é ligado à base conservadora que fará oposição a Sarto
Sargento Reginauro (Pros) é ligado à base conservadora que fará oposição a Sarto (Foto: Divulgação)

O que, por outro lado, não significa que ele não vá sofrer forte oposição, explica Torres. Nomes fortemente vinculados à campanha de Capitão Wagner (Pros), por exemplo, devem dar muita dor de cabeça a Sarto, como a vereadora Priscila Costa, do PSC, Carmelo Neto, do Republicanos e Sargento Reginauro, do Pros, todos ligados a uma base eleitoral conservadora.

Sargento Reginauro destaca que há uma insatisfação muito grande com uma atual gestão que prioriza recursos “para uma pequena parcela da Cidade” e que a oposição terá um “trabalho árduo de cobrança”. Até agora, não temos retorno sobre questões graves com relação a recursos que ainda não retornaram. Esse trabalho de fiscalização será contundente”, enfatiza o vereador.

Essa oposição ligada ao adversário de segundo turno de Sarto ganha ainda mais força com o resultado apertado nas urnas. Monalisa destaca que a oposição sai fortalecida com os menos de 4% de diferença de votos entre os dois candidatos, dando mais peso a esse quadro na Câmara. O fato de Wagner ter ido ao segundo turno já é uma demonstração dessa força adversária.

“Fortalece Wagner como um dos grandes nomes da oposição no estado e de pessoas que estão ao lado dele, como [senador] Eduardo Girão (Podemos), que conseguiu eleger o prefeito em Juazeiro do Norte. São nomes que vão se fortalecendo e se somando a outros”, argumenta.

Ao todo, o grupo capitaneado por Wagner conseguiu vitória em três dos maiores colégios eleitorais do Estado, com Glêdson Bezerra (Podemos), em Juazeiro do Norte, maior colégio eleitoral do interior, Vitor Valim (Pros) em Caucaia, segundo maior cidade do Estado número de eleitores, e Roberto Pessoa, que é do PSDB, mas também se ligou a Wagner e foi eleito para nova gestão em Maracanaú. Também foi eleito pelo Pros o Professor Marcelão (Pros), em São Gonçalo do Amarante.

Sargento Reginauro destaca que há uma insatisfação muito grande com uma atual gestão que, segundo ele, prioriza recursos “para uma pequena parcela da Cidade” e que a oposição terá um “trabalho árduo de cobrança”. "Até agora, não temos retorno sobre questões graves com relação a recursos que ainda não retornaram. Esse trabalho de fiscalização será contundente”, enfatiza o vereador.

"Papo político"

Diante desses resultados, a professora universitária e pesquisadora também ligado ao Lepem, Márcia Paula Chaves, acredita que essa oposição da Câmara de Fortaleza também cria “papo político” que deve ser utilizado para votações no próximo pleito, em 2022.

“São três grupos principais”, explica Chaves: “um mais conservador, ligado ao Wagner, um de centro, com vários apoiadores do Sarto e do Roberto Cláudio e outro da esquerda, com o PT e o PSol”, observa.

Torres ainda reforça o argumento lembrando que, primeiro, “não há vácuo na política”, e o grupo de Wagner ocupa um espaço deixado por Tasso Jereissati (PSDB) e, em segundo, que o ganho de força dessa oposição também simboliza certa deterioração de período hegemônico. “Quando o grupo está perdendo força, você vê a oposição ganhando força e novos nomes aparecendo”, ressalta.

No entanto, ambas as pesquisadoras acreditam que, na Câmara, deve prevalecer o pragmatismo político, tendo em vista que os vereadores precisam dialogar com o executivo (e vice-versa) nas negociações que favoreçam a base que os elegeu.

O fator Psol

Nossa cara
Nossa cara (Foto: Aurélio Alves)

Com duas candidaturas eleitas, o Partido Socialismo e Liberdade (PSol) forma a bancada mais à esquerda do legislativo fortalezense. “São nomes que vieram dos movimentos para o partido e já têm mobilização em torno de pautas, além de um mandato com nova proposta de exercício parlamentar”, adianta Chaves.

Enquanto a “Nossa Cara”, candidatura coletiva registrada em nome de Adriana Gerônimo, traz representatividade para questões ligadas a mulheres negras, da periferia e LGBTQI+, o biólogo Gabriel Aguiar já entra com 10 anos de história no ativismo ambiental, principalmente, pela preservação das Dunas da Sabiaguaba.

A expectativa é que a bancada dê voz aos movimentos sociais e pautas da juventude e atue como oposição ao executivo, já que mesmo o PSol tendo apoiado a candidatura de Sarto no segundo turno, os partidários fizeram questão de ressaltar que essa escolha foi na verdade contra “o avanço do Bolsonarismo” em Fortaleza, representado pela figura de Wagner. Mas a crítica a atual gestão e a próxima apoiada pelo grupo governista permanece como posicionamento do partido.

E como fica o PT?

FORTALEZA, CE, BRASIL, 06-01-2017: Entrevista com a Vereadora Larissa Gaspar. (Foto: Evilázio Bezerra/O POVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 06-01-2017: Entrevista com a Vereadora Larissa Gaspar. (Foto: Evilázio Bezerra/O POVO) (Foto: EVILÁZIO BEZERRA)

Segundo a vereadora reeleita pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Larissa Gaspar, a expectativa é, sim, de oposição a Sarto na nova gestão. Contudo, ela destaca que esse posicionamento deve ser propositivo. Também há expectativa de alinhamento com o grupo psolista que chega ao legislativo.

Todavia, a pesquisadora Paula Chaves prevê também uma postura mais pragmática do PT com relação ao Executivo, seguindo o modelo da Assembleia Legislativa, onde o governador Camilo Santana (PT) e o próprio Sarto, enquanto presidente da AL-CE, não sofriam, segundo destaca, forte oposição.

O atual presidente da Câmara está com Sarto

Antônio Henrique de Sousa (PDT), atual presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, é, além de correligionário, nome próximo a Sarto. Há expectativa de que ele seja reeleito para segundo mandato bienal como líder no Legislativo, o que favorece ainda mais a gestão que propõe continuidade ao governo de Roberto Cláudio. Paula Chaves enfatiza que essa reeleição de atual presidente só não deve ocorrer se houver uma decisão do próprio grupo governista em favor de outra candidatura.

Pluralidade e possibilidades de enfrentamento

Para Paula Chaves, com novos perfis eleitos, a Câmara de Fortaleza estará mais plural, mas não necessariamente progressista. Ela explica que figuras como Carmelo Neto, Priscila Costa e Ronaldo Martins (Republicanos) trazem com expressivo número de votos as pautas do conservadorismo.

Há expectativa, segunda ela, também de embate entre esse grupo formado pelo PSol, por exemplo, que trazem pautas diametralmente opostas. É de se esperar que, enquanto Priscila traga a defesa da família tradicional cristã, as eleitas pela "Nossa Cara" enfatizem pautas ligadas às populações LGBTQIA+. Por isso, discussões afloradas devem ser protagonizadas por essas figuras nos próximos anos.

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