Em meio ao agravamento da crise da resposta do Governo Federal à pandemia da Covid-19, pesquisas de opinião apontaram ontem queda da aprovação de Jair Bolsonaro (sem partido) entre os brasileiros. O movimento ocorre em meio a pressões pela abertura de um processo de impeachment contra o presidente no Congresso, com manifestações neste sentido marcadas para hoje em todo o País.

A maior queda de popularidade foi apontada pela pesquisa Exame/Ideia, que mostrava 37% de "ótimo" ou "bom" para o governo em 14 de janeiro. No levantamento divulgado ontem, o mesmo índice caiu onze pontos, passando para 26%. Já o índice de "ruim" ou "péssimo" na pesquisa disparou oito pontos para cima, indo de 37% para 45%.

Também divulgada ontem, novo levantamento do Datafolha registrou queda na popularidade do presidente. Nesta pesquisa, ele somava aprovação de 37% em dezembro, número que caiu seis pontos e chegou aos 31% – a maior queda nominal da aprovação de Bolsonaro desde o início de seu governo, em janeiro de 2019.

“Com certeza a pandemia teve um grande impacto político nisso. Além da crise em Manaus, a disputa pela vacina e todo o acúmulo do ano passado com relação à pandemia contribuíram muito para isso”, avalia a cientista política Nayara Macedo, doutora pela Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora da Universidade Federal de São Carlos (UFScar).

Ela destaca que as repercussões políticas da gestão da pandemia começam a desgastar mais claramente o governo com o surgimento de crises como a do Amazonas, mas que já eram vistas nas eleições do ano passado.

“Dá para ver só pelos resultados, os candidatos apoiados por Bolsonaro nas principais cidades todos perderam, alguns nem ao segundo turno foram”.

De acordo com a pesquisa Datafolha, a maior queda da avaliação do presidente se dá justamente no Norte, onde fica Manaus, e no Centro-Oeste, regiões que até então eram redutos bolsonaristas. Nessas regiões, índice de aprovação do presidente caiu de 47% para 36%. No Nordeste, a rejeição de Bolsonaro voltou a subir, passando de 34% para 43%.

A avaliação do presidente volta a cair no momento em que crescem pressões políticas para que Bolsonaro seja responsabilizado por omissões e falhas do governo na gestão da crise sanitária no País. Segundo o Placar do Impeachment independente, 111 deputados federais já se manifestaram a favor da medida, ante 73 contrários.

Na manhã de ontem, um grupo de advogados, juristas e representantes do meio artístico solicitaram uma reunião com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. A ideia é convencer o órgão a entrar com uma ação contra Bolsonaro.

“Do ponto de vista de base legal e jurídica, certamente já existem várias possibilidades de se arguir (o impeachment)”, avalia a jurista Juliana Diniz, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC).

“Se confluírem fatores que configurem uma tempestade perfeita, como queda de popularidade, degradação econômica, crise social provocada pelo fim do auxílio, isso pode fazer com que ele (Bolsonaro) perca a coesão da base parlamentar que ele tem construído a base de negociações. Isso é uma perspectiva possível para 2021”, afirma.

O Datafolha apontou ainda que 50% dos eleitores consideram que Bolsonaro não tem capacidade para governar, ante 52% em dezembro. Já a porcentagem dos que o consideram capaz ficou em estabilidade, de 45% para 46%.

Outro dado aponta que 41% nunca confiam na palavra do presidente (ante 37% da pesquisa anterior), enquanto 38% confiam às vezes (ante 39%) e 19% sempre confiam (eram 21%).