O Congresso Nacional definiu os novos presidentes da Câmara e do Senado ontem à noite em votações secretas e presenciais em Brasília. Na Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL), candidato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), derrotou Baleia Rossi (MDB-SP), apoiado pelo ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e comandará a Casa até 2023. No Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), também apoiado pelo governo federal, foi vitorioso.
Lira, um dos líderes do Centrão, recebeu 302 votos, mais que o dobro que Baleia (145). Entre os 22 deputados cearenses, apenas Célio Studart (PV) não esteve presente na sessão. O parlamentar está em quarentena após testar positivo para Covid-19. Ele queria participar da votação remotamente, mas como a eleição foi exclusivamente presencial, Célio foi impedido de participar, o que gerou protestos do deputado.
A Câmara teve um clima repleto de tensão, com candidatos trocando provocações. Ontem à tarde, durante a reunião de líderes para decidir a formalização dos blocos apresentados para a Mesa Diretora, Maia e Lira bateram boca por conta de divergências no cumprimento de prazos referentes à formalização de apoios.
O primeiro ato de Lira como presidente da Câmara foi indeferir o registro do bloco de Baleia Rossi. Assim, ele praticamente retirou a possibilidade de que partidos que apoiaram o adversário, como PT, PSDB e Rede, pudessem participar da Mesa Diretora. A oposição já fala em golpe com a medida.
O argumento é de que o bloco foi constituído com atraso em relação ao prazo permitido pelo regimento. Com a decisão de Lira, a eleição dos cargos da Mesa Diretora foi adiada e os registros de candidatura invalidados. Uma nova eleição, com composição de novos blocos, foi marcada para esta terça-feira.
No discurso da vitória, Lira defendeu a independência do Congresso e o equilíbrio das contas públicas e falou em favor da vacinação. "Temos que vacinar, vacinar, vacinar o nosso povo. Temos que buscar o equilíbrio das nossas contas públicas", pontuou, declarando que procurará Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, para articular a votação de uma "pauta emergencial".
O triunfo de Lira é uma vitória pessoal de Bolsonaro (sem partido) e uma derrota para o bloco de Maia e para o DEM, que viu sua base rachar dias antes do pleito. A estratégia política do governo federal de aproximação com o Centrão em troca de eventuais cargos e até R$ 3 bilhões em emendas enfraqueceu uma eventual frente ampla protagonizada pela centro-direita.
Poucos minutos após a confirmação da vitória de Lira, Bolsonaro se manifestou nas redes sociais. Se limitando a postar o número expressivo de votos do aliado na disputa, o presidente colocou uma foto de ambos sorrindo e apertando as mãos.
- Arthur Lira é eleito (302 votos em 513 possíveis), em primeiro turno, para presidir a Câmara para o biênio 2021/22. pic.twitter.com/bCTNuxoqyH
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) February 2, 2021
Maia fez um discurso de despedida antes da votação, no qual emocionado, agradeceu aos colegas e disse que as brigas haviam passado. "Tivemos um momento de mais atrito no meu caso com a candidatura do deputado Arthur Lira. A ele e aqueles que o apoiem, se em algum momento se sentiram ofendidos pelo o que falei, não foi a minha intenção. Admiro a cada um dos deputados e deputadas. Tenho orgulho de ser presidente desta Casa e mais do que isso, tenho orgulho de ser deputado federal", afirmou no plenário.
Paula Vieira, professora e cientista política vinculada ao Laboratório de Estudos Sobre Política, Eleições e Mídias (Lepem-UFC), aponta que a vitória de Lira é o "reforço" da correspondência com o que tem sido implementado em termos de agenda pelo governo. Para ela, os desafios do presidente da Casa passam pelo andamento das reformas, como a tributária, a superação da crise econômica e a boa gestão do orçamento em tempos de crise.
Sobre o impeachment do presidente, Vieira disse que torna-se inviável com a vitória do líder do Centrão. "Se Baleia ganhasse, já precisaria de um apoio popular mais forte para ir para frente, mas com Lira ganhando não é encaminhado de jeito nenhum", projeta, reforçando que a agenda política do Brasil deve seguir sendo pautada pelas questões de saúde em relação a vacina contra a Covid-19 nesse primeiro momento.