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"Conduta tóxica" de Bolsonaro pode levar a colapso da saúde, diz Mandetta
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"Conduta tóxica" de Bolsonaro pode levar a colapso da saúde, diz Mandetta

Em entrevista ao O POVO, ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta diz que saúde pode colapsar no Brasil nas próximas semanas e que conduta de Bolsonaro é "tóxica"
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EX-MINISTRO da Saúde fez pesadas críticas à conduta de Bolsonaro na pandemia (Foto: Júlio Nascimento/PR)
Foto: Júlio Nascimento/PR EX-MINISTRO da Saúde fez pesadas críticas à conduta de Bolsonaro na pandemia

Ex-ministro da Saúde do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), o médico Luiz Henrique Mandetta afirma que a “liderança tóxica” do presidente da República pode agravar ainda mais o quadro sanitário no País, que chegou ontem a novo recorde de mortos por Covid-19: 1.840. 

Em entrevista exclusiva ao O POVO, Mandetta diagnosticou que o cenário de pandemia ainda deve piorar nas próximas semanas. “Pode piorar, sim, porque temos uma liderança tóxica, muito tóxica, muito nefasta na condução do posto maior do país”, diz.

Segundo ele, o “Brasil tem uma crise de saúde potencializada por uma crise política”, que se torna mais grave porque as “decisões do presidente são decisões políticas”.

Bolsonaro não é louco”, argumenta Mandetta, “não é ignorante, é um erro as pessoas falarem ‘ele é assim mesmo, ele é insano, faz isso por despreparo’. Não. Ele sempre jogou contra”.

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Para Mandetta, que travou quedas de braço com o chefe, o presidente sabotou ações da pasta comandada por ele até meados do ano passado, quando deixou o cargo após desentendimento em torno das medidas a serem encampadas contra a Covid – Bolsonaro defendia abertura do comércio e uso de medicamento sem eficácia; já o então ministro reiterava a importância de reduzir o fluxo de pessoas ao máximo e assegurar disponibilidade de leitos de UTI.

“No eixo da prevenção, ele sabotou lavagem das mãos, uso de máscaras, sabotou a questão da aglomeração, sabotou a testagem”, cita o ex-auxiliar. “No eixo do atendimento, ele sabotou criando a figura da cloroquina, criando dúvidas sobre a conduta médica, criando uma série de fake news.”

O médico acrescenta que Bolsonaro é responsável por “crime contra saúde quando aglomera, quando vai ao Ceará num dia de extrema dor para os cearenses e provoca uma aglomeração”, referindo-se à visita presidencial à cidade de Tianguá na última sexta-feira, 26, para assinatura de ordem de serviço de um viaduto.

“Na semana passada, ele questionou o uso de máscaras”, continua. “Ele tem já uma série de posicionamentos profundamente de sua responsabilidade, que não podem ser terceirizados para ninguém”.

O Presidente da República e o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (Foto Isac Nóbrega/PR)
Foto: Isac Nóbrega/PR
O Presidente da República e o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (Foto Isac Nóbrega/PR)

E complementa: “Ações concretas de boicote à saúde pública, Bolsonaro tem pelo menos umas dez. É lamentável, deplorável e triste um país ver um líder falar isso num momento como esse”. 

Hoje fora do Governo e cotado como presidenciável pelo DEM, partido ao qual é filiado, Mandetta também avalia a evolução da doença no Brasil e projeta que as próximas semanas são determinantes, sobretudo porque os indicadores de saúde se deterioraram, de acordo com dados recentes de acompanhamento da enfermidade.

"Acho que vamos ter uma pandemia em escala nacional. Nós temos hoje uma epidemia em todo o Nordeste, na região Sul e no Sudeste, que onde a gente tem a maior concentração de população" Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde

O risco, prossegue o ex-ministro, é que o caos visto dias atrás no Amazonas, onde faltaram oxigênio e outros itens básicos para o atendimento de pacientes em condições graves, se repita agora numa proporção maior e, diferentemente da primeira onda, simultânea, o que impediria inclusive a transferência de acamados de um estado para outro.

“O que aconteceu em Manaus foi que esse colapso, agravado por uma total falta de monitoramento, planejamento e ação, por conta dessa condução equivocada, errada e burra, chegou a esse ponto”, declara Mandetta. “Se fosse um país sério, essas pessoas já estariam devidamente enquadradas.”

Ainda para o ex-ministro, houve erro, porém, na identificação e monitoramento da nova variante do vírus, o que acabou contribuindo para que a doença se disseminasse mais rapidamente.

“A gente nem sabe quando essa variante começou, para saber o comportamento dela e quando ganha escala. A partir do momento em que começou a aumentar o número de casos em Manaus e a variante era de lá, o ministério não monitorou, não cuidou, deixou acabar o oxigênio de um sistema de saúde que já é frágil”, aponta.

Questionado sobre como o cenário pode estar dentro de 15 dias, com eventual colapso na rede, Mandetta responde: “O colapso é quando você tem o direito de ir para o sistema de saúde, tem o dinheiro, tem plano de saúde, tem ordem judicial, mas simplesmente não tem o acesso. Infelizmente, quando isso ocorre, as pessoas acabam falecendo sem ter o direito de lutar pela vida”.

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