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A queda de Mandetta, enfim anunciada
Reportagem

A queda de Mandetta, enfim anunciada

Jair Bolsonaro tira Luiz Henrique Mandetta do Ministério Saúde em meio à explosão de casos de Covid-19 no Brasil
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"Eu vou tomar aquela que estiver disponível para mim", afirma o ex-ministro (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil "Eu vou tomar aquela que estiver disponível para mim", afirma o ex-ministro

Chegou ao fim a indefinição sobre o futuro do Ministério da Saúde. Demissionário desde a semana passada, quando circulou rumor de que seria exonerado e a temperatura política se elevou, Luiz Henrique Mandetta foi afastado ontem do cargo de ministro pelo presidente Jair Bolsonaro. Em seu lugar, assumiu o médico oncologista Nelson Teich.

À demissão, seguiu-se mais um pronunciamento do presidente, o sexto em pouco mais de um mês. Ladeado pelo novo auxiliar, o chefe do Executivo voltou a atacar governadores e prefeitos, a quem responsabilizou pelos danos à economia ao decretarem suspensão do comércio e quarentena.

Sem mencionar a cloroquina, substância a que tem se referido em seus discursos, o presidente justificou a troca de comando na pasta em meio à explosão de casos de novo coronavírus no Brasil - passam de 30 mil os diagnósticos positivos para Covid-19 e quase duas mil mortes.

Segundo ele, embora o respeite como médico, "Mandetta pensava diferente". Em seguida, afirmou se preocupar com que a "volta à normalidade chegue o mais rápido possível", reiterando cobranças que vinha fazendo ao então ministro, de quem discordava sobre a condução da política de combate à infecção.

Bolsonaro acrescentou: "O que conversei com Nelson é que gradativamente temos que abrir os empregos no Brasil. Essa grande massa de humildes não tem como ficar presa em casa e, quando voltar, não ter emprego. E o Governo não tem como manter esse auxílio por muito tempo".

O ex-capitão disse também que "a vida não tem preço, mas a economia e o emprego têm que voltar" e que é preciso "começar a ter flexibilidade para que não venhamos a sofrer mais com isso".

E completou: "Quando se fala em saúde, em vida, a gente não pode deixar de falar em emprego. Uma pessoa desempregada fica mais propensa a sofrer problemas de saúde do que uma outra, empregada. Desde o começo da pandemia, eu falei da vida e do emprego. É como um paciente que tem duas doenças".

Teich, em sua primeira manifestação à frente do ministério, respondeu que estava "totalmente alinhado" com o presidente da República. Mas ressalvou: "Não vai haver qualquer definição brusca, radical, do que vai acontecer. O que é fundamental hoje? É que a gente tenha informação cada vez maior sobre o que acontece com as pessoas com cada ação que é tomada".

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Sobre afrouxar o isolamento social e chancelar o retorno ao trabalho, o novo titular do MS declarou que "saúde e economia não competem entre si", antecipando que irá promover "testagem em massa" como forma de verificar o alcance da patologia.

Naquele mesmo instante, Mandetta, já ex-ministro, participava de sua última entrevista coletiva, ainda no Palácio do Planalto. Nela, o médico e ex-deputado federal do DEM, vestindo o jaleco azul do Sistema Único de Saúde (SUS), se despedia da função.

Em tom emocionado, pediu à equipe técnica com que atuava para que não arredasse um milímetro do compromisso de trabalhar a favor "da vida, do SUS e da ciência".

Era seu último recado a Bolsonaro depois de mais de duas semanas de desavenças explícitas, a última delas no domingo passado, ao "Fantástico", quando Mandetta se queixou de que os brasileiros não sabiam a quem ouvir, se o presidente ou o ministro. A sua saída talvez encerre a dúvida.

 

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