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'Chega de frescura e mimimi. Vão ficar chorando até quando?', diz Bolsonaro
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'Chega de frescura e mimimi. Vão ficar chorando até quando?', diz Bolsonaro

Declaração do presidente ocorre no dia em 1.699 pessoas morreram no Brasil em decorrência da Covid-19
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PRESIDENTE também ficou irritado quando questionado sobre demora na vacinação (Foto: Alan Santos/Presidência da República)
Foto: Alan Santos/Presidência da República PRESIDENTE também ficou irritado quando questionado sobre demora na vacinação

Na semana com os piores números da pandemia da Covid-19 no Brasil, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), afirmou nesta quinta-feira, 4, que é preciso "enfrentar o problema de peito aberto" e parar de "frescura". Bolsonaro voltou a apelar para que governadores e prefeitos não adotem medidas restritivas para conter a crise sanitária.

O chefe do Executivo também disse que gostaria de ter o poder para definir a política de enfrentamento ao vírus. Contrário a medidas de fechamento, Bolsonaro voltou a elogiar o "homem do campo" por ter continuado a produzir durante a pandemia da Covid-19.

"Vocês (produtores rurais) não ficaram em casa, não se acovardaram, nós temos que enfrentar os nossos problemas, chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até quando? Temos que enfrentar os problemas", disse o presidente da República, em evento de inauguração de trecho da ferrovia Norte-Sul, em São Simão (GO).

"Respeitar, obviamente, os idosos, aqueles que têm doenças, comorbidades, mas onde vai parar o Brasil se nós pararmos? A própria bíblia diz, em 365 citações, ela diz: não temas", declarou.

A declaração de Bolsonaro ocorreu no dia em que o Brasil registrou 1.699 novas mortes em decorrência da Covid-19 nas últimas 24 horas, segundo dados atualizados nesta quinta-feira, 4, pelo Ministério da Saúde. Com isso, chega a 260.970 o total de vidas perdidas no País em razão da doença.

Vacinas

Em outra agenda, mais cedo, Bolsonaro já havia demonstrado irritação com aqueles que cobram em redes sociais que o Governo Federal compre imunizantes. "Tem idiota nas redes sociais, na imprensa, ‘Vai comprar vacina’. Só se for na casa da tua mãe! Não tem para vender no mundo!", afirmou para apoiadores em Uberlândia (MG).

O governo federal é pressionado para avançar na imunização, apesar de o Ministério da Saúde ter anunciado negociações de mais de 100 milhões de doses com Pfizer e Janssen. A quantidade de pessoas vacinadas contra a Covid-19 no Brasil chegou a 7.671.525 nesta quinta-feira, o equivalente a 3,62% da população imunizada com a primeira dose.

As declarações do presidente ocorrem ainda no momento em que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), seu filho mais velho, é alvo de suspeitas por ter comprado uma casa luxuosa em Brasília, no valor de R$ 6 milhões. Nos bastidores, aliados dizem se tratar de uma estratégia para desviar o foco desse novo desgaste político.

 

Reações

Nesta quinta-feira, um grupo de 14 governadores enviou carta ao presidente cobrando a "imediata adoção de providências necessárias" para viabilizar a compra de vacinas contra a Covid-19. O governador do Ceará, Camilo Santana, (PT) está entre os signatários da carta

Eles dizem que os Estados estão envidando todos os esforços para enfrentar o aumento de casos e mortes pelo coronavírus, mas estão "no limite de suas forças e possibilidades" e cobram do governo que aja com celeridade.

O Ministério Público Federal, por meio de procuradores de 24 Estados e do DF, assinou recomendação ao Ministério da Saúde ontem para que adote com urgência, em todo o território nacional, medidas para conter a transmissão do novo coronavírus.

Os procuradores querem que o ministério comandado por Eduardo Pazuello "formule uma matriz de risco objetiva, baseada em critérios técnicos, que sirva para a adoção de medidas de distanciamento social, de acordo com a situação epidemiológica e a capacidade de atendimento de cada localidade".

(Cruzeiro dos Peixotos-MG, 04/03/2021) Parada inopinada em Cruzeiro dos Peixotos - Distrito de Uberlândia..Foto: Alan Santos/Presidência da República
Foto: Alan Santos/Presidência da República
(Cruzeiro dos Peixotos-MG, 04/03/2021) Parada inopinada em Cruzeiro dos Peixotos - Distrito de Uberlândia..Foto: Alan Santos/Presidência da República

Repetições sobre STF

O presidente repetiu o argumento de que foi impedido de decidir sobre políticas de combate ao vírus no País, apesar da fala não ser verdadeira.

Desde o ano passado, Bolsonaro alega que o Supremo Tribunal Federal (STF) tirou dele a possibilidade de agir na pandemia, deixando isso para os Estados e municípios. A Corte decidiu em abril de 2020, contudo, que a União, Estados, municípios e o DF têm "competência concorrente" na área da saúde pública para realizar ações que reduzam o impacto da covid-19.

"Eu apelo aqui, já que foi me castrada a autoridade, para governadores e prefeitos: repensem a política de fechar tudo, o povo quer trabalhar", afirmou Bolsonaro. "Vamos combater o vírus, mas não de forma ignorante, burra, suicida. Como eu gostaria de ter o poder, como deveria ser meu, para definir essa política. Para isso que muitos de vocês votaram em mim", disse.

Na quarta-feira, após um ano de pandemia, Bolsonaro afirmou em entrevista à imprensa que tinha um plano próprio e pronto para o enfrentamento da doença, mas se recusou a dar detalhes. Ele argumentou que para colocar o plano em prática precisaria de autoridade e que para tal aguardava uma autorização do STF.

Nesta quinta, Bolsonaro afirmou que foi eleito para "comandar o Brasil" e disse esperar "que esse poder seja restabelecido". "Até quando vamos ficar dentro de casa? Até quando vai se fechar tudo? Ninguém aguenta mais isso. Lamentamos as mortes, repito, mas tem que ter uma solução", indagou em sua fala no evento desta quinta. "Se nós destruirmos a nossa economia, pode esquecer um montão de coisa. Vamos ser algo como países colônias no passado, e não queremos isso. Vamos de peito aberto enfrentar o problema", declarou.

 

 

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