Logo O POVO+
Barroso e Gilmar protagonizam bate-boca em julgamento sobre suspeição de Moro
Politica

Barroso e Gilmar protagonizam bate-boca em julgamento sobre suspeição de Moro

Após escalada da discussã, fux interrompeu a sessão e cortou o microfone dos colegas. Mais cedo, Barroso também discutiu com Ricardo Lewandowski sobre 'pecadilhos' da Lava Jato revelados por meio de mensagens hackeadas
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Gilmar Mendes vota para manter decreto que proíbe cultos religiosos    (Foto: CARLOS ALVES MOURA)
Foto: CARLOS ALVES MOURA Gilmar Mendes vota para manter decreto que proíbe cultos religiosos  

Os ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes protagonizaram um bate-boca no fim do julgamento desta quinta-feira, 22, no Supremo Tribunal Federal, levando o ministro Luiz Fux a encerrar prontamente a sessão quando a situação começou a sair do controle.

Durante a discussão, Barroso acusou Gilmar de ‘manipular a jurisdição’ ao ‘sentar em cima’ do processo sobre a suspeição de Moro por dois anos e só pautá-lo após o ministro Edson Fachin anular as ações da Lava Jato contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Vossa Excelência sentou em cima da vista por dois anos e ainda se acha no direito de ditar regra para os outros", criticou Barroso. Ao fundo, Gilmar responde: "o moralismo", e "é a pátria da imoralidade".

Barroso continua: "Não tem moralismo nenhum. Vossa Excelência cobra dos outros o que não faz. Fica criticando o ministro Fachin depois de ter levado dois anos com o processo embaixo do braço, esperou a aposentadoria do ministro Celso, manipulou a jurisdição. Ora, depois vai e acha que pode ditar regra para os outros".

"Vossa Excelência perdeu, perdeu", rendeu Gilmar.

Luís Roberto Barroso, ministro do STF
Foto: Carlos Moura/STF
Luís Roberto Barroso, ministro do STF

O presidente da Corte, ministro Luiz Fux, tenta interferir na briga e encerrar a sessão, afirmando que concedeu a palavra a todos. Ao ver que a discussão começava a escalar, informa que finalizaria o julgamento. "Me perdoem, não gosto de cassar a palavra de ninguém, não gosto de cassar as palavras dos colegas, mas está encerrada a sessão", decretou, cortando o microfone dos ministros.

A confusão começou após Gilmar defender seu entendimento de que a Segunda Turma tinha competência para julgar a suspeição de Moro, posição referendada pela maioria do plenário na sessão desta quinta-feira.

Ao criticar o colega, Barroso relembrou que foi o próprio Gilmar quem pediu vista nos autos da suspeição de Moro em 2018, e só os devolveu para julgamento após Fachin anular todos os atos do ex-juiz da Lava Jato ao reconhecer a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar Lula.

Para Barroso, a manobra de Gilmar atropelou o relator da operação no Supremo, que defendia que o caso fosse discutido no plenário. "O conflito não foi entre a turma e o plenário, foi entre o relator e a turma", disse Barroso. "A fórmula processual é: se os dois órgãos têm o mesmo nível hierárquico, um não pode atropelar o outro".

Gilmar criticou: "Também eu quero aprender essa fórmula processual. Talvez isso exista no código do Russo", fazendo referência ao apelido da força-tarefa a Moro. "Isso existe no Código do bom senso, o respeito aos outros. Se um colega acha uma coisa e outro acha outra, é um terceiro que tem que decidir", disse Barroso.

Discussão com Lewandowski

Mais cedo, Barroso já havia se envolvido em outra discussão acalorada com o ministro Ricardo Lewandowski em razão de seu voto no julgamento da suspeição de Moro. Barroso destacou as conquistas da Lava Jato e classificou como ‘pecadilhos’ as revelações descobertas nas mensagens hackeadas dos procuradores, o que não agradou o colega.

Ao pedir a palavra, Lewandowski relatou o que vê como falhas e erros da Lava Jato, citando suposta busca da força-tarefa por cooperações internacionais fora dos trâmites regulares. "Não estamos tratando de pecadilhos. Estamos tratando de pecados mortais, que constitui colaborações à margem da lei brasileira com autoridade estrangeira".

Barroso questionou: "Vossa Excelência acha que o problema então foi o enfrentamento à corrupção, e não a corrupção?".

"Vossa Excelência sempre quer trazer à colação, à baila a questão da corrupção, como aqueles que estivessem contra o modus operandi da Lava-Jato fossem favoráveis à corrupção. Mas o modus operandi da Lava-Jato levou a conduções coercitivas, a prisões preventivas alongadas, ameaças a familiares, prisão em segunda instância, além de outras atitudes a meu ver incompatíveis com o Estado democrático de Direito", rebateu Lewandowski.

O que você achou desse conteúdo?