Após denúncia de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teria montado um "orçamento secreto" para destinar R$ 3 bilhões em emendas parlamentares para aumentar sua base de apoio no Congresso, a cidade de Tauá (CE), no sertão dos Inhamuns, aparece como a principal beneficiada pelo esquema, segundo reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, que revelou o orçamento a partir de ofícios enviados ao Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) e órgãos vinculados.
“Os R$ 110,3 milhões que o relator-geral do orçamento, Domingos Neto (PSD-CE), destinou a Tauá, em dezembro, logo após a eleição de sua mãe, Patrícia Aguiar (PSD) - prefeita da cidade -, fizeram da cidade a maior beneficiada do Brasil por repasses da pasta”, diz o texto.
Os recursos, porém, não foram solicitados pelos parlamentares nos moldes tradicionais, via inclusão no orçamento da União, mas sim por um “orçamento secreto”, decidido a portas fechadas. A prática, apelidada de “Tratoraço” nas redes sociais, aponta que parte da verba foi destinada à compra de tratores e equipamentos agrícolas por preços muito superiores aos valores de referência fixados. Em alguns casos, 259% acima.
Procurado pela reportagem, Domingos Neto afirmou que não há irregularidades nos repasses. "É plenamente legítimo o parlamentar destinar melhorias para os municípios de sua base. É, inclusive, papel do parlamentar lutar por conquistas para seu estado e seus municípios. Sobre as máquinas da Codevasf, o próprio ministro Rogério Marinho já se manifestou que não existe orçamento secreto e irregularidade, até porque, no caso do Ceará, essas máquinas foram adquiridas pela própria Codevasf e serão doadas aos municípios", afirmou.
Acesse a cobertura completa do Coronavírus >
A pasta do Desenvolvimento Regional reconheceu que parlamentares definiram “como e onde” aplicar os R$ 3 bilhões de verbas, função que caberia apenas a ministro Rogério Marinho. Nas redes sociais, o ministro que "são falsas as informações da reportagem do Estadão que acusa o governo de ter criado um orçamento secreto", justificando que parlamentares da oposição tiveram indicações contempladas.
Além de Tauá, as cidades de Petrolina (PE) e Santana (AP) são destacadas como redutos eleitorais de aliados do governo que receberam recursos por critérios políticos.
A reportagem mostra que a liberação das emendas começou após o centrão aderir à base governista, sobretudo na eleição para as Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, em fevereiro deste ano. Para Bolsonaro, era importante somar aliados nas presidências das Casas para garantir que pautas de interesse do governo fossem apreciadas no Legislativo.