Pressionado pelo Centrão e com a popularidade em queda livre, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vai fazer uma reforma ministerial, nos próximos dias, para fortalecer sua base de sustentação no Congresso e sobreviver às crises. A novidade será a entrada do senador Ciro Nogueira (PP-PI) na Casa Civil.
Sem conseguir enfrentar até agora acusações que pesam contra o governo na CPI da Covid no Senado, Bolsonaro vai mudar a articulação política do Palácio do Planalto e desmembrar o Ministério da Economia. Com a mudança, o Centrão entra agora no núcleo duro do governo, no Palácio do Planalto. O general Luiz Eduardo Ramos, que hoje comanda a Casa Civil, será deslocado para a Secretaria-Geral da Presidência, atualmente nas mãos de Onyx Lorenzoni.
Considerado um curinga do governo, Onyx irá para o Ministério do Trabalho e Emprego, pasta que hoje está sob o guarda-chuva da Economia e será recriada.
À reportagem, Ramos disse que "não sabia" das mudanças. "Fui atropelado", afirmou. O PP, presidido por Ciro Nogueira, é o principal partido do Centrão e, além do senador piauiense, tem como expoentes o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), e o líder do governo na Casa, Ricardo Barros (PR), atualmente na mira da CPI da Covid.
O senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) foi o primeiro nome a ser chamado para comandar a Casa Civil e também a Secretaria-Geral da Presidência, mas não quis. Ex-presidente do Senado, Alcolumbre hoje comanda a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e tem mostrado resistências à indicação do advogado-geral da União, André Mendonça, para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal.
A CCJ vai sabatinar Mendonça em agosto, quando terminar o recesso parlamentar. O governo quer atrair novamente o senador, visto como um aliado rebelde, mas ele prefere investir na candidatura à reeleição, em 2022.
Bolsonaro disse ontem que fará uma "pequena reforma" no ministério, prevista para segunda-feira, 26. Na campanha de 2018, o então candidato do PSL havia prometido não ceder a pressões políticas por cargos nem lotear a equipe.
Eleito com um discurso de enxugamento da máquina pública, Bolsonaro também anunciava uma Esplanada com apenas 15 ministérios. Com a pasta do Trabalho, ele terá 24, nove a mais do que o prometido. Em entrevista ontem à rádio Jovem Pan Itapetininga (SP), o presidente afirmou que os novos ministros foram escolhidos "com critérios técnicos", sem dar mais detalhes. "É para a gente continuar administrando o Brasil", justificou.
Nos bastidores, aliados do governo já avaliavam que Bolsonaro precisava contemplar o Senado, principalmente agora, com o governo acuado pela CPI e na expectativa de aprovar as indicações de Mendonça para uma vaga no Supremo e a recondução de Augusto Aras como procurador-geral da República.
Trabalho e Emprego é o segundo ministério recriado por Bolsonaro para acomodar a base aliada. No ano passado, o presidente havia relançado o ministério das Comunicações para nomear o deputado Fábio Faria (PSD-RN), que está de malas prontas para o PP e também despacha no Planalto, ao lado de Flávia Arruda (PL) na Secretaria de Governo.
Nos grupos de WhatsApp do Progressistas, parlamentares já começaram a felicitar Nogueira, que antecipou volta de viagem que fazia ao México. Efetivada a nomeação do senador, hoje titular da CPI da Covid, quem assume a vaga no Senado é sua mãe, Eliane Nogueira. (Agência Estado) (leia mais em ÉRICO FIRMO, página 8; ECONOMIA, página 11)