Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não será obstáculo para a manutenção da aliança entre PT e PDT no Ceará. O compromisso foi comunicado ontem pelo ex-presidente ao senador Cid Gomes (PDT) e confirmada ao O POVO pelo deputado José Guimarães (PT).
"Hoje reencontrei um companheiro de luta em Fortaleza: o senador Cid Gomes. Uma boa conversa. Dividimos uma longa caminhada em defesa da democracia e de um projeto de inclusão. E compartilhamos a preocupação com o momento que atravessa nosso país", disse Lula nas redes sociais.
Lula e Cid se reuniram na manhã de ontem, na Residência Oficial do governador Camilo Santana (PT), para debater o cenário nacional para 2022. Em entrevista à Folha de S. Paulo, o pedetista disse ter reiterado o desejo pela aliança local entre as duas siglas, recebendo resposta positiva do ex-presidente. Foi o 1º encontro entre os dois desde 2016.
"Ele manifestou a sua preocupação, que é a mesma que eu tenho, com os arroubos de Bolsonaro na direção de ataques à democracia. E falou da necessidade de ações suprapartidárias para se contrapor a isso", disse Cid à Folha. O teor da conversa foi confirmado por José Guimarães, que acompanha Lula no Ceará.
O encontro ocorre em meio a uma recente escalada de tensões entre Ciro Gomes (PDT), irmão de Cid e pré-candidato à Presidência pela quarta vez, e lideranças petistas nacionais. De olho na parcela do eleitorado "nem Lula, nem Bolsonaro", Ciro tem subido o tom das críticas e provocações contra o ex-presidente e os governos petistas.
O racha nacional, no entanto, não deve se refletir no Ceará, onde Camilo Santana mantém aliança próxima com o PDT de Cid e Ciro Gomes. Em julho, o governador chegou a dizer "não ter dúvidas" de que os dois partidos continuarão juntos no Ceará. Para lideranças petistas, a conversa de ontem entre Lula e Cid fortalece a tese de que a questão será resolvida localmente, sem interferência do projeto nacional do PT.
"O Lula sabe como está a questão local, e eu considero que as conversas que teve com o PT, especialmente com o Camilo, apontam o caminho de que o partido saberá, na hora certa, decidir o melhor caminho que preserve a candidatura (de Lula à Presidência) e os interesses do partido e do projeto liderado pelo Camilo", resume José Guimarães.
O quase consenso pela união e não intervenção do PT nacional no processo cearense enfraquece a tese de candidatura própria petista para o governo do Estado, defendida hoje pelo deputado Zé Airton Cirilo (PT). Segundo ele, recentes ataques de Ciro Gomes a Lula tornam "inviável" a aliança entre os partidos para 2022.
A questão, no entanto, teria sido descartada pelo próprio Lula na reunião de ontem. "Ele disse que compreende a posição do Ciro. Chegou até a dizer que se fosse Ciro que estivesse à frente nas pesquisas, ele [Lula] que estaria criticando", disse Cid à Folha.
Com isso, cresce a possibilidade de a base aliada caminhar unida em 2022, com o PDT indicando o candidato ao Governo. Atualmente, os nomes mais cotados são o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), e o secretário de Planejamento e Gestão da gestão Camilo, Mauro Filho (PDT).
Já o PT estaria contemplado na chapa com a indicação de Camilo Santana para o Senado. No último sábado, 21, a tese foi até motivo de piada de Lula com jornalistas. "Ainda nem perguntei para o Camilo o que ele vai ser. Ele tá com cara de senador já, mas não sei se ele quer ser senador", disse, durante evento com o governador em São Gonçalo do Amarante.
Agenda de ontem encerrou viagem de quatro dias de Lula ao Ceará. Desde a última sexta-feira no Estado, o ex-presidente cumpriu uma série de compromissos políticos, a maioria envolvendo conversas fechadas com líderes de partidos aliados. Na tarde de ontem, o petista embarcou para Natal, no Rio Grande do Norte.