Primeiro filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) a assumir uma secretaria da gestão José Sarto (PDT), o ex-prefeito de Quixadá, Ilário Marques, diz que a decisão de integrar a equipe do pedetista teve como base o desejo do governador Camilo Santana (PT) em aprofundar a parceria entre o Governo do Estado e a Prefeitura de Fortaleza.
"O governador falou que é muito importante, da mesma maneira que o PDT dá uma contribuição a nível de Estado, que tivesse uma contribuição do PT na esfera municipal", disse Ilário, em entrevista ao O POVO. "O que o Camilo queria era uma pessoa para tocar o desafio da ação social, que precisa de uma forte parceria com o Estado".
O ex-prefeito, que lidera uma das correntes internas do PT no Ceará, assumiu na sexta-feira, 7, a Secretaria de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS) da gestão Sarto. Ligado ao deputado José Guimarães (PT), o presidente do partido no Ceará, Antônio Filho — o Conin — esteve presente na cerimônia de posse do secretário.
Nos bastidores, a nomeação, bem como a presença de Conin no ato, são vistas como novos passos no sentido da manutenção da aliança entre petistas e pedetistas na eleição de 2022. Segundo o próprio Ilário, a indicação foi articulada por Camilo, que o procurou antes mesmo de o petista ter qualquer conversa com Sarto sobre o assunto.
"Não sei como se deu a conversa do Sarto com o Camilo, mas, na verdade, quem me fez a sondagem e deu a opinião de que eu deveria ir foi o Camilo. Só depois o Sarto me fez o convite. Fui primeiro contatado pelo governador e entendi que seria algo dentro de dar uma resposta, do ponto de vista de gestão, nessa questão social", diz.
O agora secretário destaca ainda que sua indicação não simboliza qualquer tentativa de "interferência" na postura do PT de Fortaleza, que hoje faz oposição ao prefeito. "Antes de aceitar o convite e ser anunciado, eu fiz o comunicado ao Guilherme (Sampaio, presidente do PT Fortaleza). Ele ficou muito ciente e não esboçou nenhuma reação", diz.
"Até porque a ressalva estava dada, de que não houve qualquer negociação política de mudança de postura do PT municipal. Isso é assunto do PT municipal apenas", diz. Além de Guilherme, o PT tem outros dois vereadores na Câmara Municipal, Larissa Gaspar e Vicente Pinto, suplente em exercício na vaga de Ronivaldo Maia, preso por tentativa de feminicídio. O três fazem oposição a Sarto na maioria das votações.
Sobre a eleição de 2022, Ilário diz seguir cartilha parecida com a de Camilo, pregando que o PT priorize a aliança com o PDT. "Com o Camilo sendo candidato ao Senado e, portanto, a discussão do nome (do candidato a governador) passe pelo PDT, tudo isso conduzido pelo governador, até porque é a sucessão dele".
Ele destaca, no entanto, que as discussões devem ter foco na candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência. "O projeto nacional, com o Lula, é o que preside tudo. Queremos eleger mais estaduais, federais, o Camilo senador, mas tudo isso em harmonia com a construção da candidatura do Lula", afirma.
Ilário diz ainda que o fato de ele ter ocupado, até semana passada, cargo na Secretaria de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS) do governo Camilo também o ajudará na nova função. "A secretária da SPS (Socorro França) sempre buscou essa atuação integrada com os municípios, então tenho muitas informações".
Neste sentido, ele destaca como pilares de sua gestão três temas que necessitam de "resposta urgente": fome, desemprego e ação social. "Estamos vivendo uma emergência (em referência à pandemia de Covid-19), e efetivamente voltamos a ter pessoas com fome na periferia. Vamos trabalhar isso e uma política de renda, isso é urgente".
Prefeito de Quixadá por quatro mandatos, Ilário cumpriu o último mandato à frente do Município até o final de 2020. Naquele ano, ele foi candidato à reeleição, mas acabou derrotado pelo atual prefeito, Ricardo Silveira (PSD). Ilário afirma que nem ele nem a sua esposa, a ex-deputada estadual Rachel Marques (PT), devem disputar eleições este ano.