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Banco Central eleva taxa básica de juros a 11,75%, maior nível em cinco anos
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Banco Central eleva taxa básica de juros a 11,75%, maior nível em cinco anos

| Selic | Decisão representou a nona alta consecutiva feita pelo Comitê de Política Monetária, e os efeitos sobre consumo, crédito e investimentos já são projetados
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DIMINUIÇÃO do consumo e a substituição de produtos são efeitos esperados sobre a população (Foto: BARBARA MOIRA)
Foto: BARBARA MOIRA DIMINUIÇÃO do consumo e a substituição de produtos são efeitos esperados sobre a população

Mesmo com mais um choque de preços no País gerado pela guerra na Ucrânia e um novo descumprimento da meta de inflação no radar, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu o ritmo de alta da Selic (a taxa básica de juros). A Selic subiu 1 ponto porcentual, de 10,75% para 11,75% ao ano, o maior nível desde abril de 2017 (12,25%), ou seja, em cinco anos. Nas últimas três reuniões, o BC havia elevado a taxa em 1,50 ponto porcentual.

A decisão de ontem, 16, foi a nona alta consecutiva da Selic - após a taxa chegar à mínima histórica de 2% - acumulando 9,75 pontos de ajuste. A última vez que houve nove aumentos seguidos (completando um ano de aperto) foi entre abril de 2013 e abril de 2014.

Mas, naquela época, o avanço foi mais modesto, de 7,25% para 11%, ou 3,75 pontos porcentuais, nas vésperas da campanha de reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Já o choque de juros deste ciclo já é o maior desde 1999 quando, durante a crise cambial, o BC aumentou a Selic em 20 pontos porcentuais de uma vez só.

A decisão era esperada pela maior parte do mercado financeiro. Conforme pesquisa do Projeções Broadcast, 44 das 53 instituições consultadas esperavam alta da Selic de 1 ponto porcentual, para 11,75% ao ano. Oito apostavam em aumentos maiores, seis de 1,25 pp, a 12,00%, e dois de 1,50 pp, a 12,25%. Havia ainda uma estimativa de elevação de 0,75 pp, a 11,50%.

No Copom de fevereiro, o BC havia indicado a intenção de reduzir o ritmo de alta dos juros básicos, citando o estágio avançado do ciclo. Mas a reviravolta causada pela invasão da Ucrânia pela Rússia embaralhou o cenário, com fortes efeitos inflacionários também no Brasil, a exemplo do megarreajuste dos combustíveis.

No Boletim Focus, a estimativa para o IPCA, inflação oficial, de 2022 (6,45%) indica que a meta deste ano (3,50%, com tolerância de 2% a 5%) está praticamente perdida, após o desvio de quase 5 pontos em 2021, quando o IPCA foi de 10,06%. A projeção de 2023 (3,70%) também se afasta do objetivo principal do BC no ano que vem (3,25%, com banda de 1,75% a 4,75%).

O aumento do juro básico reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis meses e nove meses). A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos.

O Brasil se consolidou como sede de uma das maiores taxas de juros reais (sem a inflação) do mundo. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 7,10% ao ano. É o segundo juro real do mundo, considerando 40 economias mais relevantes.

O Brasil só fica atrás da Rússia que, encurralada pelas sanções decorrentes da invasão à Ucrânia, precisou elevar sua taxa nominal de juros de 9,5% para 20% e estabelecer o controle de capitais no fim de fevereiro. A taxa real russa está em 30,07%. (Agência Estado)

 

Inflação

Em relação à inflação, a Associação Brasileira de Bancos projeta que o IPCA ficará acima da meta, em 6,2% neste ano. Já para 2023, a projeção é de 3,9%.

 

Custo

A alta contribui para que o custo do dinheiro fique mais caro e assim, financiar veículo, imóvel ou mesmo contratar empréstimo pessoal fica mais difícil.

 

Ceará terá impacto sobre o consumo

Em relação ao Ceará, o impacto do aumento da Selic é muito no consumo. A gente é um mercado consumidor, não é um mercado muito produtor, embora a gente tenha algumas boas indústrias aqui. O Ceará é mercado consumidor importante, sem dúvida vai haver impacto na diminuição do consumo e na substituição de alguns produtos. Em linhas gerais é isso que vai acontecer para o consumidor.

Com relação às empresas, deve haver uma retração importante de crédito e principalmente um custo muito mais alto de captação de recursos por conta desse aumento da taxa de juros, sem dúvida nenhuma. Esse é o impacto de imediato.

Um ponto extremamente relevante que os economistas falam é que a taxa Selic a 2% foi um exagero, pressionou muito. Isso, ligado ao excesso de liquidez de dinheiro no mundo, pode também ter influenciado um pouco na inflação brasileira, além da Covid, da guerra e das consequências de tudo isso. Quando a gente junta Covid, guerra, taxa baixa e excesso de liquidez no mercado, temos uma pressão inflacionária importante. Infelizmente, o remédio do BC é único, que é aumento de taxa básica de juros.

A gente vai sair de 12% para provavelmente 13%, 13,25% ou 13,5%, a depender das cenas dos próximos capítulos. Houve uma aceleração muito grande nos últimos meses, no fim do ano passado e neste ano, para esse aumento, para sair de 2% e chegar agora onde a gente está, com a perspectiva de ter mais um ou dois ou três aumentos de um ponto. Então a gente iria para 13%, como eu falei.

Quais os reflexos disso na economia nacional? Um impacto extremamente relevante na vida das pessoas mais necessitadas. Porque há um aumento importante dos preços já percebido nos supermercados e no comércio de forma geral. Os preços estão absurdamente mais altos, a inflação é uma realidade no Brasil. Estamos falando de uma inflação do IPCA de 7%, 8%, 9% e 10% ao longo do ano, o que vai provocar impacto nos preços e continuar reverberando isso inclusive ao longo do ano de 2023. E a cerejinha do bolo: além de tudo isso, temos uma eleição ainda a acontecer.

Eliardo Vieira

Vice-presidente do Ibef Ceará

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