As sucessivas pesquisas de intenção de voto divulgadas neste ano, até o momento, indicam que a "disputa real" pela Presidência tem caminhado para se dar entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). O líder petista tem sustentado vantagem sobre o capitão da reserva do Exército, que, por sua vez, apresentou reação nos últimos meses, principalmente após a saída de Sergio Moro (União Brasil) da disputa. Os levantamentos demonstram voto consolidado nos dois e estreitam cada vez mais brechas por entre as quais candidaturas alternativas pretendem passar.
Na última quarta-feira, 11, por exemplo, pesquisa Genial/Quaest mostrou Lula com possibilidades de liquidar a fatura ainda na primeira parte da disputa. Ele somou 46% das intenções de voto. Bolsonaro foi segundo, com 29%. Reforçando, entre petistas e bolsonaristas, pelo menos, a ideia de um segundo turno definido.
A pesquisa mexeu com os ânimos do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), levando-o às redes sociais no mesmo dia, após ser pressionado a largar a disputa. Em dois cenários sem a presença do pedetista, Lula venceria Bolsonaro no primeiro turno.
"Irei até o fim e vencerei no 2º turno", reagiu o cearense em publicação. Segundo Ciro, caso se retirasse da corrida, a polarização seria fortalecida e Bolsonaro seria favorecido. "Porque a resiliência do genocida é menos ilógica do que aparenta. Ela está fortemente ancorada no antipetismo", argumentou o ex-ministro.
Cleyton Monte, cientista político e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), ressalta que a leitura mais completa do desenrolar da sucessão presidencial é possível por meio do acompanhamento da série de pesquisas. Elas, diz, indicam que Lula e Bolsonaro têm "voto cristalizado", o que se verifica sobretudo nas sondagens espontâneas - aquelas em que os nomes dos candidatos não são anunciados no questionário - e indicam uma intenção de voto mais consolidada.
O segundo elemento destacado por Monte é o da recuperação do presidente. "Se deve a vários fatores como o fim da pandemia, a leve recuperação econômica, com o consumo e o Auxílio Brasil. Os grupos da classe C e D são os que mais sofrem, mas você tem grupos que começam a consumir."
Segundo Monte, pesquisas são relevantes não só para o eleitor, mas para a montagem de palanques e formação de alianças. São instrumentos para o mundo político, com seus atores, se movimentar baseado na expectativa de vitória - e de poder - que cada candidato proporciona. Ciro, no exemplo citado por Monte, tem no momento apenas o apoio do PDT, ao qual é filiado.
Bolsonaristas, por seu turno, mobilizam campanha de deslegitimação das pesquisas que o mostram em situação desfavorável na comparação a Lula. A ideia de "DataPovo" - um trocadilho com Datafolha - que tem sido frequente em grupos de adoradores do presidente no Telegram.
Para o sociólogo e cientista político Rodrigo Prando, professor do Instituto Mackenzie (SP), a campanha contra os institutos deve ser compreendida como parte de uma estratégia maior, a de gerar descrédito nas urnas eletrônicas, usadas no Brasil desde 1996 sem ocorrência comprovada de fraudes.
Segundo Prando, embora o ceticismo em relação às urnas tenha uma dimensão real, também integra uma articulação idealizada para fazer crer que o presidente Bolsonaro é mais forte do que o que efetivamente é. "Qualquer um que vença o Bolsonaro será discutido aí como um elemento de fraude, e, portanto, essa contestação das pesquisas fazem parte dessa estratégia política de colocar em dúvida esse cenário", analisa o docente.
Para ele, contando com o Centrão e com a força da Presidência da República, a "caneta na mão", Bolsonaro tende a diminuir a vantagem de Lula. O cientista político projeta uma disputa apertada. "Não acho que a vida do Lula esteja tão tranquila a ponto de ser vitorioso no primeiro turno", assinala.
"Creio que é um candidato forte, até porque todos os presidentes foram reeleitos, os que se candidataram, FHC, Lula e Dilma. Então, não se pode desprezar isso nessa curta trajetória da Nova República Brasileira", adiciona Prando.
Sobre Ciro, o professor projeta meses de pressão do PT. Não pelo Lula, mas provavelmente, diz o professor, pelo "que eles querem deixar evidente": "em prol da democracia no Brasil."